Infinitude: um projeto de expressão no ‘terroir’ português de Colares

Na última semana, tive a oportunidade de participar de uma degustação online dos vinhos Infinitude, elaborados com uvas cultivadas no pequeno (mas grandioso em qualidade) ‘terroir’ de Colares, que faz parte do município português de Sintra. A prova foi organizada pela importadora Wine Concept, que traz os rótulos para o Brasil.

Rodrigo Jardim (foto abaixo), que está à frente do projeto junto com o enólogo Francisco Figueiredo, participaram da ‘live’ e falaram sobre os vinhos e acerca de Colares, região que possui no total apenas 72 hectares de área, das quais 22 são de solo de areia e 50 de solos calcários (ou chão rijo, como eles chamam). O projeto Infinitude conta nesta região com apenas 1 hectare de chão de areia e 3,5 hectares de chão rijo.

A área está localizada aos pés da Serra de Sintra e ganha a influência do Oceano Atlântico, de onde está bem próxima. É uma região fria em comparação ao restante do país. Recebe ventos muito fortes e a umidade que vem do mar costuma contribuir na formação de neblina.

As principais uvas da localidade são a tinta Ramisco e a branca Malvasia. Porém, os vinhos Infinitude, que tiveram as suas primeiras vinhas plantadas no ano 2000, são elaborados com as castas francesas Pinot Noir e Merlot – uma ousadia bem acertada da família Jardim. Para mim, ganharam caráter exótico, porém de muita elegância.

Vale a pena lembrar que o plantio na região de Colares é uma verdadeira odisseia. Por causa dos solos de areia, as mudas precisam ser plantadas a grandes profundidades (podem chegar a até 7 metros) para poderem se fixar. Lá, as plantas são resistentes à praga da Filoxera, por isso são cultivadas em pé-franco, ou seja, sem a necessidade de porta-enxertos.

Por ser uma área de produção bastante pequena, a elaboração dos vinhos nessa região é bem limitada. Somando-se a isso a dificuldade no plantio, os rótulos costumam ser poucos e com preços mais elevados: verdadeiros itens de boutique.

Confira as minhas impressões sobre os vinhos provados:

Infinitude Pinot Noir / Merlot

Este é um corte de uvas 50% Pinot Noir e 50% Merlot de diferentes safras: 2012, 2015 e 2017. O vinho trouxe para a taça cor rubi com reflexos granada, pouco profunda e uma boa gama aromática, envolvendo notas terrosas, minerais, vegetais, de cereja e chocolate. Esses aromas aparecem à medida que o vinho vai sendo aerado. Paladar seco, de boa acidez, taninos macios e um toque salgado – influência do Atlântico. Corpo de leve a médio. Estagiou parcialmente (20%) em barricas usadas de carvalho francês durante 18 meses.

Infinitude Pinot Noir

Feito 100% com uvas Pinot Noir das safras de 2011, 2014. 2015 e 2016, o vinho mostrou cor rubi pouco profunda com traços levemente alaranjados. Aromas com traços florais e de fruta vermelha madura, amparados por notas minerais, de ervas secas e um toque defumado, além do característico ‘sal’ da região. Paladar elegante, de taninos aveludados, ótimo frescor e sabor semelhante às impressões do nariz, além de notas de chocolate. Estagiou parcialmente em barricas de carvalho francês por 18 meses.

Infinitude Merlot

Elaborado apenas com uvas Merlot colhidas nas safras de 2011, 2014, 2015 e 2016, este foi o mais surpreendente para mim das três amostras. Também exibiu coloração de pouca profundidade, rubi com traços granada. Os aromas, muito diversos e exóticos, remeteram a um leve frutado, cercado de notas florais, de erva-doce, pimenta preta e discreto tostado. Também senti algo que lembrou o cheiro do caju. Paladar muito fresco, de taninos elegantes, marcado pela salinidade e pelas mesmas características sentidas no nariz. Corpo de leve a médio, com boa persistência na boca. Um conjunto muito exótico e agradável.

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