Sete amostras de vinhos cheias de história: alguns deles já não estão nem mais à venda. Cada um contendo um pouco da trajetória enológica da Finca La Anita, vinícola pioneira na elaboração de vinhos de qualidade superior na Argentina, fundada nos anos 90, em Mendoza. Tudo isso numa degustação promovida esta semana para um grupo brasileiro de profissionais e jornalistas do ramo, organizada pela Total Vinhos, TDP Wines e CH2A Comunicação, da qual tive a honra de participar.
Direto da Argentina, o fundador da Bodega Manuel Mas (foto), contou aos participantes sobre a trajetória da bodega, que foi batizada em homenagem à sua mãe – contrariando a moda da época que era de dar nomes franceses às vinícolas locais. Tudo num tempo, que segundo ele, os vinhos argentinos eram divididos apenas em tintos e brancos, sem distinção de castas. “Eram vinhos massivos e sem qualidade, que viajavam mil quilômetros de trem até Buenos Aires para serem vendidos”, explicou ele.
Observando a revolução vitivinícola que vinha acontecendo na Europa, com utilização de tanques de inox, barris de carvalho e enólogos formados à frente da produção, Manuel decidiu reproduzir em Mendoza essa fórmula. Comprou uma finca abandonada e começou elaborando vinhos a partir de uma vinha velha de uvas Syrah. Depois replantou outras variedades, dando início à história da Finca La Anita.
Entre os anos de 94 e 96, a marca se instalou fortemente no mercado argentino, tudo na base propaganda boca a boca. “Nunca investimos em publicidade”, se vangloria Manuel.
Por não ter filhos e nenhum dos familiares querer assumir a bodega, ele passou o bastão para a engenheira agrônoma Soledad Vargas, que atua há mais de dez anos na vinícola e hoje comanda a enologia da vinícola junto com o suíço Richard Bonvin. Atualmente, a Finca La Anita é parte do grupo suíço Origin Wines.
A Malbec é uma é uma das estrelas da bodega, que está localizada na região de Alto Agrelo, ao sul de Mendoza, numa altitude de aproximadamente 900 metros acima do nível do mar. Porém também são cultivadas outras variedades como Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Pinot Noir e Merlot (tintas), além de Chardonnay e Sauvignon Blanc (brancas). Algumas variedades não têm mais vinhos no mercado atualmente, como a Semillón (que já tive a oportunidade no passado de provar um vinho espetacular feito por eles) e o Tocai Friulano sobre o qual eu falo a seguir, junto com os demais vinhos provados:
Finca La Anita Tocai Friulano 2010
Elaborado com a uva branca Friulano (Sauvignonasse ou Sauvignon Vert), originária na região italiana da Friuli-Venezia Giulia, é um vinho sem passagem por madeira que resistiu e evoluiu lindamente todos esses anos na garrafa. Exibiu na taça cor amarelo dourado. Aromas que remeteram a azeitonas verdes, flores secas e um toque de mel. Na boca mostrou-se seco, ainda fresco e muito elegante, trazendo de volta no sabor as sensações sentidas no nariz.
Classificação: Excelente/Excepcional.
Finca La Anita Malbec 2001
Um Malbec bem evoluído, com muito charme na taça, a começar pela sua bonita cor granada. No nariz, couro, folhas secas, canela e especiarias. Paladar com acidez e taninos presentes, mostrando alguma fruta em compota, chocolate e relembrando as impressões do olfato. Final persistente e saboroso. Sua evolução na taça é bem perceptível. E com a sua estrutura, ainda aguenta mais alguns anos em garrafa.
Classificação: Excepcional
Finca La Anita Línea Tonel 2000
Provei essa mesma em 2012 e ela já estava excepcional, segundo minha avaliação à época. Nove anos depois ele se mostrou não só ainda excepcional, como também trouxe consigo ainda mais elegância, adquirida durante esse tempo de garrafa. Feito com 70% de uvas Syrah e 30% de Malbec, o vinho exibiu cor granada de média profundidade e aromas com notas de resina, couro e flores secas. Paladar de médio a encorpado, mostrando ainda frescor. O sabor revelou leves notas de frutas em compota, couro, caramelo e especiarias. Final longo.
Classificação: Excepcional
Finca La Anita Malbec 2018
Malbec com maturação de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano, de estilo encorpado, mas bastante agradável pela boa presença de acidez e pelo equilíbrio com o álcool e os seus taninos macios. Cor rubi de média profundidade. No nariz, leve mentol, frutas vermelhas e negras maduras, especiarias e notas de banana passa. Boa persistência em boca e sabor que remeteu às impressões do olfato.
Classificação: Excelente
Finca La Anita Petit Verdot 2018
Feito 100% com uvas Petit Verdot, o vinho maturou 12 meses em barricas francesas novas e de um ano de uso. Exibiu na taça cor rubi de média a profunda e aroma vibrante que recordou frutas negras, chocolate e um interessante toque de flor de laranjeira. Paladar encorpado, bem equilibrado, com taninos macios, com sabor mentolado, trazendo de volta também as sensações percebidas no nariz.
Classificação: Excelente
Finca La Anita Gran Corte 2018
Com 59% de Syrah e 41% de Malbec na composição, este tinto, de estilo americano, maturou 15 anos em carvalho francês. Trouxe para a taça uma gama variada de sensações, onde pude sentir notas florais, frutas vermelhas maduras, chocolate branco, especiarias e um leve amendoado. Encorpado e persistente, o conjunto da boca mostrou-se bem harmônico, apesar da potência. É um vinho que ainda envelhece bem em garrafa.
Classificação: Excelente
Finca La Anita Varúa Blend 2017
Havia provado há alguns meses esse mesmo vinho e ele voltou a me impressionar. Elaborado com as variedades Merlot (40%), Syrah (40%) e Cabernet Sauvignon (20%), maturou 15 meses em barricas francesas novas. Muito elegante, com cor rubi brilhante, de média a profunda, mostrou no aroma um conjunto de várias camadas, trazendo frutas vermelhas e negras, mentol, especiarias e um toque de couro. Paladar corpulento, com boa presença de acidez e taninos macios. Sabor correspondente às impressões do nariz, incluindo notas de cogumelos e eucalipto. Final persistente.
Classificação: Excelente/Excepcional
