Como de costume, no primeiro dia do mês comento o vinho escolhido pela Confraria Brasileira de Enoblogs. Trata-se de um grupo virtual do qual faço parte, onde mensalmente se sugere um tema e os participantes (todos blogueiros de vinhos) abrem um rótulo e publicam os comentários sobre ele em suas páginas. Normalmente provo o meu um pouco antes, mas às vezes deixo para a última hora, como foi o caso da sexta-feira passada.
O vinho era um rosé da região francesa da Provence, sugestão do confrade Ewerton Cordeiro. Como não tinha nenhum exemplar do tipo na adega, busquei, sem sucesso, em três diferentes lojas perto de casa (gente, cadê os deliciosos rosés da Provence?).
Já que em todos os estabelecimentos que visitei só havia rosés da região do Loire, resolvi levar um para não “passar em branco”. Como a pressa é inimiga da perfeição, terminei não observando a safra do exemplar que eu estava levando: um Rosé d’Anjou Domaine de La Pacaudiere 2009 – completando simplesmente quatro aninhos de existência!
Só me dei conta da idade do danado quando ele já estava no balde, devidamente resfriado. Dito e feito: abri e estava “passado”.
E para não “passar em branco” novamente, resolvi explicar aqui, de uma maneira bem simples, para quem ainda não sabe, porque os vinhos estragam (dicas que também vão ajudar na hora da compra):
1) O ditado “quanto mais velho, melhor o vinho” está longe de ser verdade. Ele só se aplica aos vinhos de guarda – aqueles com capacidade de envelhecimento, principalmente os tintos.
2) Brancos e rosés são os que decaem mais facilmente. Por isso, na hora da compra escolha as safras mais jovens. Apenas os vinhos brancos doces e os grandes brancos, tais como os Chardonnay da região francesa da Borgonha ou os Riesling alemães e austríacos, podem durar vários anos.
3) A grande maioria dos tintos que vai para o mercado é feita para ser consumida nos seus primeiros três anos de vida.
4) Em contato com o oxigênio, o vinho fica “avinagrado”, resultado da oxidação.
5) Além da oxidação, outro problema pode estragar o vinho: a “doença da rolha” ou bouchonné. A rolha de cortiça pode desenvolver um fungo que acaba contaminando o vinho, dando a ele aromas que lembram mofo ou pano guardado molhado. Estima-se que 2% a 5% das rolhas de cortiça no mundo sejam contaminadas.
6) As partículas em suspensão no vinho não são um problema. Nos brancos indicam presença de tartarato, o que não causa nenhuma interferência na bebida. Já nos tintos, os resíduos apontam que o vinho não foi filtrado. Para os vinhos antigos, que apresentam normalmente sedimentos, aconselha-se a decantação.
7) Vinhos em embalagem bag-in-box devem ser tomados jovens. Os de tampa de rosca normalmente também.
Pior é quando você vai a um restaurante e o vinho (que as vezes foi lá indicado) está "passado", "sofrido", totalmente alterado, e aí começa aquele constrangimento de se devolver um vinho que não está "avinagrado", mas está ruim e não deveria ser servido. Abs. Jaime Sakaki
Nmho, os vinhos Rose avinagram com facilidade. Há bastantes anos, num restaurante famoso na zona "Ribeirinha", pedi uma garrafa de Mateus Rose. Veio totalmente vinagre. Reclamei, e trouxeram-me outra. Também vinagre. Bem, aqui já não reclamei, mas deixei a garrafa e pedi água engarrafada.
Ontem à noite, abri uma garrafa de Rose da minha garrafeira. da Cooperativa de Murça. Estava meio avinagrado. Dormi pouco e, ao "googlear" sobre o tema, dei com este blog.
Cumprimentos.
Olá de novo. Sou o "Anónimo" de cima. A propósito, convém esclarecer que a zona "Ribeirinha" é na cidade do Porto (Portugal). Murça também fica em Portugal, e os seus vinhos são famosos.
A propósito, e a quem interessar, vou referir o nome desse restaurante famoso: "Filha da Mãe Preta". Excelente cozinha, pelo que já comi lá mais vezes. Mas nunca mais pedi um Rosé. Tenho pedido (quase) sempre o "tinto da casa". Mais barato – e sempre de qualidade, visto estar sempre a sair.
Aproveito para parabenizar o vosso excelente trabalho a nível de enologia.
Cumprimentos.