O blog conferiu: degustação da ViniPortugal no Recife

A ViniPortugal, entidade sem fins lucrativos que promove os vinhos portugueses, organizou “city tastings” em seis capitais do Brasil: Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Florianópolis, Recife e Belo Horizonte. No Recife, o jantar harmonizado aconteceu na última terça-feira (24), no Wiella Bistrô, e contou com a presença do enólogo Cristiano Van Zeller (foto), da Quinta do Valle D. Maria, no Douro.

Van Zeller é um dos “Douro Boys”, grupo de cinco enólogos da nova geração que vem dando novos ares ao vinho português. Inicialmente, ele situou Portugal no mapa mundial de vinhos, mostrando que o país hoje é o 10º maior produtor do mundo e o 7º da Comunidade Européia.

Hoje, países como Estados Unidos, Argentina, Alemanha, África do Sul, Austrália e Chile estão na frente dos lusitanos, mas o que se percebe é que a qualidade do vinho português tem mostrado ótima média de qualidade. Um dos objetivos da iniciativa da ViniPortugal é o mostrar que o país não é mais só mais vinho do Porto. Hoje em dia, cada região produtora tem vinhos de excelente qualidade, elaborados com tecnologia recente e a partir de castas nacionais provenientes de vinhas cheias de história.

Portugal tem mais de 340 castas. A mais representativa delas é a Touriga Nacional, sobre a qual Cristiano Van Zeller teceu elogios rasgados. O enólogo, que disse “gostar de confusão”, defende a elaboração de vinhos com várias uvas. Tanto é que um dos seus rótulos, o Quinta do Vale D. Maria 2007 (confira prova mais abaixo), tem “apenas” 41 diferentes cepas.

O “Douro Boy” também falou sobre as regiões vitivinícolas mais significativas do seu país, com destaque para a do Vinho Verde, Tejo, Lisboa, Douro (Porto), Alentejo, Bairrada, Dão, Península de Setúbal, Açores e Madeira.

Apesar de ser do Douro, Cristiano diz que a aposta nos vinhos do Alentejo é sempre mais certeira, uma vez que a qualidade média dos vinhos daquela região é a melhor de Portugal.

CRESCIMENTO – A diretora da ViniPortugal para o Brasil, Sonia Fernandes, que também estava presente no evento, afirmou que a entidade aposta no crescimento de 12% das importações de vinhos para o mercado brasileiro. “Todas as ações da entidade têm o objetivo de difundir o conhecimento sobre as diversas castas nacionais, as diferentes regiões portuguesas e o investimento em tecnologias enológicas feita pelos produtores de Portugal”, explicou.
A PROVA

Foram escolhidos 14 vinhos de alto nível para degustação, de diferentes regiões e preços. Cinco deles acompanharam de maneira perfeita o jantar (que estava igualmente divino).

Confira a sequencia:

Quinta do Crasto Branco – 2008

Este branco, produzido pela Quinta do Crasto, tem origem no Douro. Na sua composição estão as uvas Gouveio, Roupeiro e Rabigato. A cor é amarelo pálido com toques esverdeados. Tem aromas discretos de frutas cítricas, como a lima, com um leve floral. Na boca, mostra caráter mineral e algo que me lembrou xarope. Tem boa persistência.

A graduação alcoólica é de 12,5%.

Classificação: Regular/bom.
Importador: Qualimpor
Preço: R$ 70

Herdade do Esporão Reserva Branco – 2008

Este alentejano produzido pela Herdade do Esporão leva em sua composição as uvas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro e teve estágio parcial em barricas novas carvalho francês e americano.

A cor é amarelo ouro e os aromas demonstram frutas secas, vegetal e pêssego. No paladar traz as características da madeira (na medida certa), além de apresentar novamente o vegetal e as frutas. Tem bom corpo, boa acidez e média persistência. Notas minerais surgem no final. A graduação alcoólica é de 14%.

Classificação: Excelente
Importador: Qualimpor
Preço: R$ 87,50

Guarda Rios Branco – 2008

Uma ótima surpresa da noite foi este branco da região do Tejo. Produzido pela Vale d’Algares, o vinho tem as castas Chardonay (35%), Sauvignon Blanc (25%), Alvarinho (25%) e Arinto (15%). Parte da bebida passou por barricas de carvalho francês durante seis meses.

A cor é amarelo palha e os aromas são florais e cítricos, evidenciando tangerina. Tem bom corpo, ótima acidez e frescor, além de final elegante. Um vinho untuoso e de ótima estrutura.

Curiosidade: Guarda Rios é o nome de um pássaro da região.

Classificação: Excelente
Importador: Casa dos Vinhos (Bahia)
Preço: R$ 64

Herdade do Grous Reserva Tinto – 2007

O produtor deste tinto alentejano é a Herdade do Grous, que usou as castas Alicante Bouschet (50%), Syrah (30%) e Touriga Nacional (20%) na produção da bebida. A sua fermentação foi em lagares com maceração prolongada e estágio de 12 meses em barricas novas de carvalho francês.

A coloração é granada, brilhante, com reflexos violáceos. Inicialmente, o álcool atacou um pouco o nariz, mas com pouco tempo, começou a surgir uma bela gama de aromas, com frutas vermelhas, baunilha, café e pimenta.

Na boca também mostra uma fruta de qualidade ímpar, muito parecida com a que sentimos no olfato. Ainda aparece mentol e especiarias. O corpo é médio e os taninos de ótima qualidade. Trata-se de um vinho que ainda suporta guarda.

Classificação: Excelente
Importador: Licínio Dias
Preço: R$ 196

Van Zellers Reserva Tinto – 2008

Um exemplar da Quinta do Vale D. Maria, de Cristiano Van Zeller. Produzido no Douro com a tradicional pisa a pé das uvas, passou aproximadamente 20 meses em barris de carvalho.

A cor é rubi brilhante, com reflexos violáceos, e mostra jovialidade no nariz, com frutas vermelhas, flores e chocolate. Tem taninos elegantes, é fácil de beber e mostra boa fruta na boca, com final persistente. Tem potencial de guarda.

Classificação: Muito bom.
Importador: Vinho Sul
Preço: R$ 69

Dúvida Tinto – 2005

Este vinho de nome interessante é produzido pelo renomado enólogo Antonio Saramago, no Alentejo. A bebida tem a uvas Aragonês, Trincadeira e Grand Noir e passou por estágio em carvalho francês novo por 12 meses e mais 12 meses em barricas novas de carvalho americano.

A cor é rubi, fechada e com tons violeta. Os aromas são marcantes, mostrando principalmente melaço. Depois de bastante tempo mostra caramelo e frutas maduras. Não é um vinho fácil de tomar, pois leva para a boca as mesmas características do olfato, tornando-o cansativo.

Porém, deve-se destacar que é um vinho bem elaborado e que mostra potencial para guarda. Apesar de não ser o meu estilo de vinho, acredito que pode ficar excelente com o tempo (a sugestão de guarda é de dez anos) e acompanhando carnes ou pratos com molhos escuros. Tem 14,2% de álcool.

Classificação: Muito bom.
Importador: Casa dos Vinho (Bahia)
Preço: R$ 347

Quinta de Chocapalha Reserva Tinto – 2006

Produzido na região de Lisboa pela enóloga Sandra Tavares da Silva, da Quinta de Chocapalha, este vinho leva as uvas Touriga Nacional (60%), Tinta Roriz (30%) e Syrah (10%). Durante 19 meses, o vinho amadureceu em barricas de carvalho francês novas.

Apresenta coloração violeta e no nariz, frutas, mentol e floral. Já na boca mostra madeira em perfeito equilíbrio, frutas vermelhas, chocolate e taninos bem trabalhados. Um vinho gostoso de tomar, com bom corpo e perspectiva de melhora com o envelhecimento em garrafa. Para mim, um dos melhores tintos da primeira etapa da degustação. A graduação é de 14%.

Classificação: Excelente
Importador: Vinci
Preço: R$ 158,22

Niepoort Redoma Tinto – 2007

Este tinto é produzido pela Niepoort, no Douro, com um blend de uvas que inclui Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela e Tinto Cão, entre outras.

A maceração foi em lagares de pedra com pisa a pé. O vinho teve estágio de 22 meses em barricas de carvalho francês (60%) e em tonéis de 2 mil litros (40% ), onde se realizou a fermentação maloláctica.

A cor é um rubi bastante escuro e os aromas revelam ameixas, especiarias e caráter animal (estrebaria). Tem médio corpo e traz novamente as mesmas características do olfato. É um vinho elegante, com grande potencial de guarda.

Classificação: Muito Bom/Excelente
Importador: Mistral
Preço: R$ 156,64

Luis Pato Rosé de Baga – 2008

[Já provado pelo blog] Este espumante é produzido na Bairrada pelo mestre da casta Baga, o produtor português Luis Pato. Tem em sua composição 100% daquela uva, o que dá à bebida uma bonita coloração salmão. Os aromas são discretos, com notas frutas secas e maçã. Na boca é mais exuberante, com bom corpo e cremosidade, sabor floral e frutado, com interessantes traços de biscoito e leveduras. Seco, é perfeito para acompanhar comida.

Classificação: Excelente
Importador: Mistral
Preço: R$ 68,46

Os vinhos do jantar:

Vallado Reserva Branco – 2007

Vinho produzido no Douro pela Quinta do Vallado, que pertence aos mesmos criadores do Barca Velha (Casa Ferreirinha), leva em sua composição as uvas Rabigato, Verdelho Viosinho e Arinto.

A bebida fermentou em barricas de carvalho e ganhou cor amarelo claro com tons esverdeados e aromas minerais e de baunilha, proveniente do estágio em madeira. Na boca, mostra bom corpo e ótima acidez, notas cítricas e traz de novo a baunilha. Vai bem com comida (carnes brancas e frutos do mar).

Classificação: Excelente
Importador: Cantu
Preço: R$ 133

Quinta do Ameal Loureiro – 2007

Este é um representante da região dos Vinhos Verdes, produzido pela Quinta do Ameal, com 100% de uva Loureiro. Tem cor clara, com reflexos esverdeados e mostra leve gaseificação. Os aromas são de pêssego, leve cítrico e mineral.

O vinho traz no paladar frutas cítricas e boa acidez, com final persistente.

Classificação: Muito Bom
Importador: Grand Cru
Preço: R$ 59

Four C – 2006

Um dos rótulos mais esperados da noite, o Four C é produzido no Dão, pela Dão Sul. O nome é uma alusão às iniciais dos quatros sócios/colaboradores da empresa (Carlos Lucas, Carlos Moura, Carlos Rodrigues e Casimiro Gomes), que escolheram, cada um, uma casta para integrar o vinho. São elas: Touriga Nacional, Trincadeira, Tinto Cão e Baga.

O Four C estagiou 10 meses em barricas de carvalho francês. Apenas 2 mil garrafas foram produzidas.

A cor é rubi escura, com reflexos violáceos, e o vinho derrama na taça finas e longas lágrimas. Os aromas revelam uma ótima complexidade, com frutas maduras, azeitona preta, defumado e mentol. É um vinho encorpado, elegante e que também mostra baunilha na boca.

Classificação: Excelente
Importador: Winebrands
Preço: R$ 368

Quinta do Vale D. Maria – 2007

Compõem este vinho, elaborado por Cristiano Van Zeller, um total de 41 castas portuguesas tintas, de vinhas que variam entre 25 e 60 anos de idade. As uvas são pisadas a pé em lagares separados.

A fermentação malolática também acontece separadamente em barricas de carvalho francês. A assemblage (mistura) se dá um mês antes do vinho ser engarrafado.

Tudo isso resultou em uma bebida de cor rubi-violácea, com bastante fruta madura e especiarias. É um vinho bem equilibrado, gostoso de beber e que reflete na boca as mesmas impressões do nariz. A graduação alcoólica é de 14,9%.

Classificação: Muito Bom/Excelente
Importador: Vinho Sul
Preço: R$ 93,90

Alambre 20 anos

Este vinho da Península de Setúbal fechou divinamente a noite, saindo junto com a sobremesa. Se bem que eu optei por tomá-lo sem acompanhamento. Produzido por José Maria da Fonseca, o mesmo do tradicional vinho Periquita, a Alambre tem cor âmbar e mostra muita vivacidade no nariz, com notas de amêndoas e frutas-passa.

Na boca, repetem-se as impressões do nariz. A doçura é na medida certa, com uma acidez que não deixa o vinho enjoativo. Aveludado, deixa um ótimo sabor no palato por um tempo prolongado.

A graduação alcoólica é de 17,5%.

Classificação: Excelente/Excepcional
Importador: Aurora
Preço: R$ 165

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0 Replies to “O blog conferiu: degustação da ViniPortugal no Recife”

  1. Olá Fabiana!

    Foi um evento literalmente delicioso! Fui na edição de Salvador, e degustei exatamente os mesmos vinhos.

    Engraçado que outro blogueiro de Floripa postou também sobre o City Tasting de lá, e o evento foi totalmente diferente.

    Quais foram teus favoritos? Fiquei com o Dúvida, o Herdade dos Grous e o Moscatel de Setúbal.

    Se quiser, confere lá minha postagem sobre o evento, com link para os vinhos:

    etilicasnotas.blogspot.com/2010/08/city-tasting-vini-portugal-eu-fui.html

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