Não é a toa que com apenas 25 anos de idade o português João Ribeiro fala com muita propriedade sobre os negócios e a produção de uma das mais antigas e famosas quintas do Vale do Douro: a Quinta do Vallado, fundada em 1716.
Ele simplesmente carrega no sangue a tradição da vitivinicultura herdada de sua tetravó, a lendária Dona Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, da tradicional Casa Ferreirinha.
Seu avô por parte de mãe é Jorge Roquette, proprietário da Quinta do Crasto. Já o seu pai, João Ferreira, é um dos “Douro Boys” e está à frente da Quinta do Vallado.
João Ribeiro está morando atualmente no Brasil e participou esta semana, junto com a importadora Cantu, de uma apresentação dos seus vinhos no restaurante Beijupirá, em Olinda.
Antes de falar da degustação, é importante contar um pouco sobre a Quinta do Vallado. Produzindo anualmente 650 mil garrafas, a vinícola possui hoje 70 hectares de vinhedos próprios, incluindo vinhas que chegam a mais de 80 anos de idade. Também conta com outras plantações fora da área da Quinta, com 90 hectares, dos quais 22 hectares estão cultivados. A produção é 55% exportada e os seus principais mercados externos atuais são, por ordem, Brasil, China e Angola.
Durante cerca de 200 anos a Quinta do Vallado teve como principal atividade a produção de vinhos do Porto, comercializados posteriormente pela Casa Ferreira (que pertencia à família). Hoje ainda produz o vinho do Porto, mas faz questão de deixar bem claro que não é o seu principal produto – embora o vinho tenha ótima qualidade.
Uma pequena percentagem das uvas da Quinta do Vallado ainda é esmagada em lagares de granito, utilizando o método tradicional. No caso do Vinho do Porto, a totalidade das uvas é pisada a pé nos lagares de granito durante um período que varia entre 4 e 5 dias. Recentemente, a Quinta do Vallado ganhou uma nova adega e uma cave capacidade para cerca de mil barricas.
Fiquei muito bem impressionada com os vinhos, apesar de já ter provado dois deles anteriormente: o Vallado Douro Tinto 2007 e o Quinta do Vallado Sousão 2007.
Confira as avaliações da degustação:
Quinta do Vallado Reserva Douro Branco 2007
Produtor: Quinta do Vallado.
Origem: Douro, Portugal.
Visual: Amarelo palha com reflexos dourados.
Olfato: Pera em abundância, junto com outras frutas brancas. Leve mineral.
Paladar: Bom corpo, sutil tostado oriundo do contato com madeira. Traz de volta o mineral e as frutas brancas.
Outras considerações: Elaborado com as castas Rabigato, Gouveio, Viosinho e Arinto. Foi vinificado em pipas de carvalho francês (70% novas e o restante com um ano de idade). Permaneceu nos mesmos barris por nove meses. Elegante, tem madeira na “dosagem” correta, da maneira que aprecio nos brancos com estágio em carvalho. Foi muito bem com o crepe crocante de bacalhau do Beijupirá. A graduação alcoólica é de 13,5%.
Classificação: Excelente.
Faixa de preço: R$ 65 a R$ 70.
Vallado Douro Tinto 2007
Comentarei este vinho novamente, uma vez que última avaliação sobre ele aqui no blog foi feita foi há mais de um ano.
Produtor: Quinta do Vallado.
Origem: Douro, Portugal.
Visual: Rubi claro, com toques granada.
Olfato: Compota de frutas vermelhas, leve floral, menta.
Paladar: Médio corpo, taninos macios e elegantes. Predomínio de frutas vermelhas maduras no sabor, bastante prolongado.
Outras considerações: Segundo João Ribeiro, este é um vinho criado para o dia a dia do consumidor português. Foi feito com as castas Touriga Franca (30%), Touriga Nacional (25%), Tinta Roriz (20%), Sousão (5%) e Vinhas Velhas (20%). Amadureceu 80% em cubas de aço e o restante em meias pipas de carvalho francês de 3º e 4º ano. Tem 14% de álcool.
Classificação: Excelente.
Faixa de preço: R$ 65 a R$ 70.
Quinta do Vallado Touriga Nacional – 2006
Produtor: Quinta do Vallado.
Origem: Douro, Portugal.
Visual: Cor rubi claro, com reflexos granada. Apresenta depósitos.
Olfato: Vivo, com toque de goiaba e frutas silvestres. Ainda apresenta notas florais, mentol e leve apimentado.
Paladar: Médio corpo. Macio, redondo. Voltam as frutas e a pimenta. Longo final. Seus taninos sinalizam que ainda tem bons anos de guarda.
Outras considerações: Um vinho para apreciar com calma, pois a cada momento surgem novas nuances. Elaborado apenas com a uva Touriga Nacional, pisada a pé. Teve estágio de 16 meses em carvalho francês. Caiu como uma luva junto com o prato servido no Beijupirá: o Filé Guimas (rolinhos de filé mignon recheados com queijo Boursin, no molho de vinho de catuaba e mel de caju, peras e arroz de bacon).
Classificação: Excelente.
Faixa de preço: R$ 160.
Quinta do Vallado Porto Tawny 10 anos
Produtor: Quinta do Vallado.
Origem: Douro, Portugal.
Visual: Cor âmbar.
Olfato: Predominam notas de amêndoa, junto com um aroma que lembra casca de laranja e ainda frutas secas.
Paladar: Boa doçura (na medida). Corpo com uma leveza maior do que a maioria dos vinhos do Porto. Surgem de novo as frutas secas, um discreto oxidado e longo final amendoado.
Outras considerações: Um Porto delicado, que vai bem tanto com sobremesas quanto com queijos. Na sua composição entram as variedades Tinta Roriz, Tinta Amarela e Touriga Franca. Vinificação de forma tradicional, com pisa à pé. Os 10 anos de estágio foram feitos em tonéis, balseiros e cascos de 600 litros de carvalho.
Classificação: Muito Bom.
Faixa de preço: R$ 160.
Importados pela Cantu, os vinhos da Quinta do Vallado podem ser encontrados, no Recife, no RM Express e Empório Pescadero.