Desde criança, os cheiros sempre me marcaram muito. Recordo perfeitamente o cheirinho que tinha a minha lancheira da escola. Lembro do aroma de terra molhada, de grama cortada, do bolo no forno, do perfume da minha avó. Até lembro dos desagradáveis (a velha catinga ou fedor), como o cocô do cavalo na rua, o sarapatel na panela (sim, para mim esse cheiro era e até hoje é horrível).
Mas tinha uma época do ano que era marcada pelos cheiros bons: o final do ano! Tudo parecia mais agradável, leve. O aroma das acácias e dos jambeiros floridos, das primeiras mangas e do caju, da castanha portuguesa, da ameixa madura, do panetone, do sapato novo! Tudo era festa para o meu nariz.
E ainda hoje continua assim. Me encanta o cheiro das passas, do peru assado, das nozes, das lentilhas, do papel de presente, do queijo do reino, da vela acesa, do bolo de frutas!
A essa altura você deve estar se perguntando: e essa coluna não é de vinhos?
É sim, caro(a) leitor(a). Vinho tem tudo a ver com cheiros. A identificação dos aromas é uma parte importante na avaliação da bebida.
Muitos dos aromas de que falei podem ser encontrados nos vinhos (até o cocô de cavalo, pasmem).
Então, a minha proposta é a seguinte: que tal aproveitar esta época rica em aromas e brindes para identificar os cheiros que exalam da sua taça?
Nos tintos é comum aparecer a ameixa madura, o jambo. Podem surgir ainda especiarias, chocolate, café, baunilha, fumo, morango…
Os brancos podem ter aromas de grama cortada, limão, melão, mel, lichia, floral, manteiga, maçã….
Nos espumantes surgem fermento, pão torrado, frutas brancas, amêndoas, nozes, flores…
Os de sobremesa mostram frutas secas, mel, chocolate, amêndoas…
Sinta o seu vinho. Veja se combina com o cheiro daquele momento. Se fica bem com o prato que você está comendo. Deixe as bolhinhas do espumante fazerem cócegas no seu nariz.
Feliz Natal e um ano novo abençoado.
Um cheiro!
*Esta é a minha coluna do mês de dezembro da revista Mon Quartier.