Por: Luciana Torreão
Brasil, um país tropical, realmente abençoado por Deus e por Baco! No país do Carnaval, a gente se diverte, mas também deveria brincar com muito espumante. É o país do futebol, do samba, do frevo e também do vinho! E que vinhos! A diversidade climática e de nossos terroirs contribuiu para que o setor vitivinicultor venha crescendo cada vez mais, com vinhos premiados e espumantes reconhecidos internacionalmente. Tal realidade foi constatada durante o Circuito Brasileiro de Degustação, que aconteceu em oito capitais brasileiras e marcou presença no Recife, na semana passada.
Com iniciativa do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) em parceria com a Abrasel e SEBRAE, o evento trouxe mais de 20 produtores do Sul e Nordeste do Brasil, com cerca de 150 rótulos diferenciados. Em passeio pelos estandes foi possível comprovar que cada região tem suas especialidades, cultura, tipicidade e sotaques próprios e que há muito a ser explorado e, claro, degustado.
O evento reuniu uma gama de produtores competentes que lá estiveram para marcar território e mostrar que o Brasil não é feito somente de bananas, mas também de vinhos. E tem tudo para ser reconhecido. De acordo com o gerente de Marketing do Ibravin, Diego Betolini (foto), o principal objetivo do Instituto com a marca Vinhos do Brasil é promover a categoria dos vinhos brasileiros no mercado interno e externo. “Na primeira e segunda etapas do Circuito, passamos por oito capitais brasileiras e reunimos os produtores e trade do vinho – restaurantes, supermercadistas e fornecedores em geral. A vitivinicultura brasileira foi a que mais evoluiu nos últimos dez anos, mas infelizmente, a referencia que a maioria das pessoas ainda tem sobre o nosso vinho, é a de 30 e 40 anos atrás, quando ainda não havia tanta qualidade como hoje”.
Segundo Diego, hoje o Brasil tem mais de 1400 medalhas nacionais e internacionais e o espumante brasileiro é o vinho mais elogiado do mundo e foi o espumante oficial das Olimpíadas de Londres. Ele diz que a intenção dessa iniciativa é aproximar as vinícolas com o consumidor e o canal distribuidor. “Queremos mostrar aos restaurantes e consumidores essa evolução e a qualidade do terroir brasileiro. No passado se pensava que o vinho brasileiro bom era só o que era produzido no Sul do país. Mas atualmente, o Vale do São Francisco também tem produtos de excelente qualidade, e produz bons moscatéis. Vale destacar que na última edição da Expovinis, no início desse ano, por exemplo, foi um vinho do Vale do São Francisco – o Testardi – que ganhou a categoria de Melhor Vinho Tinto Brasileiro do evento. Acredito que o pernambucano tem mais é que se orgulhar de sua produção. É preciso que as pessoas abram a cabeça para o vinho brasileiro. Estamos num processo continuo de construção da marca, mas é um trabalho de formiguinha”.
DESTAQUES – A variedade de produtores e o pouco tempo do evento – deveriam ser dois dias em cada cidade – impossibilitou que pudéssemos contemplar a todos. Ainda passamos pelos estandes da Casa Valduga, Casa Venturini, Cave Marson, Domno, Don Giovanni, Viapiana, Perini, Don Laurindo e Sozo Vinhos.
Dentre os expositores, um dos que mais chamou a atenção foi o Sozo Vinhos Finos, de Campos de Cima da Serra – Vacaria (RS), pelo fato de ser um produtor de maçã que enveredou pelo caminho das uvas e do vinho e, agora, também da Nogueira Pecã. Com rótulos surpreendentes, suas uvas são cultivadas a mil metros de altitude em 9,45 hectares, a vinícola produz vinhos e espumantes das castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Filho de produtores de vinhos, José Sozo adquiriu o gosto do vinho como herança de sua família italiana e diz que pelo fato de a região ser muito fria, é feita uma colheita tardia em relação às zonas tradicionais, cerca de 30 a 45 dias após a do Vale dos Vinhedos. Isso determina uma boa concentração de açúcar e maturação dos taninos que permite elaborar vinhos encorpados e harmônicos ao paladar. A amplitude térmica no verão e outono – período da maturação das uvas, cujas características são noites frias e dias ensolarados, proporciona intensa coloração das uvas e destaca seu aroma e sabor. “São produzidos vinhos mais complexos, menos alcoólicos e mais equilibrados. Por isso, são mais longevos, duram mais tempo e possuem bom potencial de guarda. Meu primeiro tinto tem oito anos e ainda está em perfeitas condições de consumo”.
Experimentamos alguns rótulos, dentre os quais destaco o espumante Sozo Imagination Brut 2009, o Sozo Chardonnay Reserva 2010 e o Sozo Pinot Noir 2011. São vinhos gastronômicos, leves, aromáticos, frutados e fáceis de beber, bem adequados para harmonizações. Seus vinhos ainda não são distribuídos no Recife, mas espera-se que após o evento, a gente tenha a sorte de esbarrar dia desses com a marca em alguma casa especializada.
AROMAS – Outra vinícola que chamou bastante atenção foi a Don Laurindo, cujo proprietário, Ademir Brandelli, apresentou e me fez experimentar, praticamente, todos os seus rótulos. Seus vinhos se caracterizam por uma explosão de aromas frutados, com bastante elegância, uns bem redondos e outros com boa estrutura. Degustamos o espumante Don Laurindo Reserva Brut, Don Laurindo Reserva Tannat 2008– um dos melhores nacionais que já provei com esta casta, Don Laurindo Reserva Merlot, Don Laurindo Reserva Malbec 2007 e por último o Don Laurindo Reserva Malvasia de Cândia 2012, um dos que mais me impressionou pelos aromas e leveza.
Lá pelo final do evento, ainda tive a sorte de conseguir conferir de perto o Viapiana Green, primeiro vinho verde da Viapiana, elaborado com as uvas das variedades Glera, Viognier, Chardonnay e Sauvignon Gris, com graduação alcoólica de 10,5 %, coloração amarelo-esverdeado. Possui aroma de frutas cítricas, como abacaxi e limão, com toques vegetais. Na boca é leve, frutado e com final bastante refrescante.
Por fim, faço uma observação: algumas produtoras já possuem distribuição e representação por aqui, mas a maioria ainda não. A gente espera que muito em breve, seja possível que os consumidores em geral possam ter acesso e desfrutar das verdades sobre o vinho brasileiro. Vale apelar pelo bom senso do canal de distribuição e aguardar boas surpresas. Enquanto isso, a gente fica com gosto de quero mais, esperando o evento do ano que vem.
>> Confira nos próximos posts algumas avaliações feitas no evento por Fabiana Gonçalves.