Coluna Escrivinhos da Revista Mon Quartier | outubro de 2013
Há dois anos, escrevi aqui sobre filmes que têm o vinho como temática. Entre eles, o hilário “Sideways”, onde um dos protagonistas, Miles Raymond (Paul Giamatti), é apaixonado pela uva Pinot Noir. Na vida real, existe também uma verdadeira legião de fãs desta variedade, que é considerada pelos vinicultores uma das mais complicadas de se cultivar.
O que vou tentar aqui é responder as seguintes perguntas: será a fama de “difícil” que seduz os seus admiradores ou a Pinot Noir tem mesmo os atributos para ser tratada como a rainha das uvas tintas?
Para entender a Pinot Noir precisamos conhecer a sua história. Ela nasceu há mais de dois mil anos no sudoeste França, mais exatamente na região da Borgonha. Por ser tão antiga, deu origem a outras variedades como Pinot Gris e Pinot Blanc. De bagos pequenos e casca fina, não se adapta a qualquer lugar. Para se desenvolver bem, precisa de clima fresco e muitos cuidados no vinhedo durante o seu desenvolvimento. Por ter nascido na Borgonha, é lá que ela dá os melhores vinhos. E não é qualquer vinho. Simplesmente são os mais admirados em todo mundo, principalmente os com a classificação “Grand Cru”.
Os vinhos feitos com a Pinot Noir na região da Borgonha têm cor clara e normalmente aromas de frutas vermelhas silvestres, florais e de especiarias. Com o tempo, podem apresentar outras características, como notas tostadas, de fumo, couro e ervas, entre várias outras. São vinhos equilibrados, elegantes e muito longevos.
BORBULHAS – A Pinot Noir também está presente na composição do champagne, junto com a casta branca Chardonnay e a tinta Pinot Meunier (uma de suas mutações). Ela só não pode ser utilizada no tipo Blanc de Blancs, que é feito apenas de uvas brancas. Diz-se que Dom Pérignon, a quem se atribui a invenção da célebre bebida, gostava de utilizar somente a Pinot Noir nas suas garrafas.
NO MUNDO – Além das regiões da Borgonha e de Champagne, a Pinot Noir é cultivada em outras partes do mundo. Em determinadas regiões dos Estados Unidos e da Nova Zelândia dá origem a bons vinhos. O Chile (Vale de Casablanca) e a Argentina (Patagônia) também já ganharam respeito na produção de rótulos com esta uva. No Brasil, seu cultivo é mais recente. Mesmo assim, vem surpreendendo na região de Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul.
Diferentemente da uva Cabernet Sauvignon, que se dá bem em quase todas as regiões vinícolas do planeta, não adianta tentar cultivar a Pinot Noir em qualquer região. O excesso de frio resulta em vinhos sem cor e de paladar pobre. Já o calor a amadurece demais, tirando a elegância da bebida.
A Pinot Noir não é, portanto, uma uva popular. Digna do título de “rainha”, tem mesmo é que ser caprichosa!