The Wall Street Journal: vinho argentino barato sumiu das prateleiras

O periódico norte-americano “The Wall Street Journal” revelou a situação delicada dos vinhos argentinos, que vêm sofrendo com a grave crise econômica do seu país.  Em uma matéria intitulada “Inflação sufoca boom de exportação de vinhos de Argentina”, o jornal mostra os aspectos do problemas vistos pelos olho do produtor José Manuel Ortega, da renomada vinícola O. Fournier.

Confira tradução do texto:

Inflação sufoca boom de exportação de vinhos de Argentina

Por anos, José Manuel Ortega exportou um tipo de Malbec que os degustadores norte-americanos qualificaram de “tinto taciturno” com “um sabor monumental”.

Mas há pouco tempo, a produção da linha Massimo, de sabor frutado e cor granada, parou. Em meio à galopante inflação argentina, os custos da mão de obra estão chegando às nuvens. E Ortega já não gerava lucro com suas garrafas mais econômicas, cujos preços de varejo variam entre 9 a 12 dólares. A recessão que golpeia desde as montadoras às imobiliárias não discriminou esta indústria do oeste da Argentina.

Ortega, que fundou o Grupo Bodegas y Viñedos O. Fournier no ano 2000, ainda vende seu vinho premium Alfa Crux, feito em homenagem às estrelas da constelação Cruzeiro do Sul. Mas ele disse que foi obrigado a parar de produzir os vinhos mais baratos. “Quando eu melhorar a situação, podemos voltar a esses projetos”, afirmou.

Este ex-banqueiro de 46 anos chegou à Argentina vindo da Espanha, depois de ver o potencial extraordinário para os vinhos nos solos pedregosos e arenosos e nos céus claros do Valle do Uco. Mas agora ele está entre os produtores afetados por uma taxa de inflação que alguns economistas avaliam em cerca de 40% ao ano.

O setor do vinho na Argentina tem tido uma história de sucesso. A demanda internacional por seus Malbec de boa qualidade, mas baratos, impulsionou o crescimento do setor por quase uma década para converter a Argentina no quinto maior produtor em 2011, de acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Mas as receitas de exportação caíram 5% no ano passado em comparação com 2012. As exportações de vinho fracionado (garrafas, caixas e outras embalagens individuais) caíram 5,5%.

“Não se deve ao vinho ou à gestão de suas marcas”, disse Stephen Rannekleiv, analista de vinhos e licores do Rabobank Group. “A questão da inflação está realmente fora de controle.”

O vinho tem sido mais golpeado que outros produtos agrícolas, como a soja, porque a colheita de uvas requer uma mão de obra intensa. Os custos dos produtores, dizem os analistas, subiu ao menos 100% nos últimos quatro anos.

Isso se traduz em menos garrafas de vinho argentino barato nos restaurantes nos Estados Unidos e Europa. “As pessoas querem algo econômico para a noite”, afirmou Víctor Márquez, gerente de Alimentos e Bebidas em Dallas. O executivo conta que, por anos, as garrafas de Malbec de 8,99 dólares eram uma escolha popular, “mas nesse instante não temos nenhuma nas prateleiras”.

Michael Evans, co-fundador do The Vines of Mendoza, empresa que vende parcelas de vinhedos a pessoas que querem experimentar produzir vinhos, diz que há pouco reduziu as exportações, incluindo garrafas de Malbec de 18 dólares, por causa dos altos custos da mão de obra. “Acabamos de dar um aumento de 15% aos nossos trabalhadores, e com isso apenas cobrem a inflação deste ano”, disse Evans, que conservará as garrafas e esperará um momento mais rentável para exportar.

Em uma tentativa de aliviar a pressão da inflação, alguns vinhedos estão exportando mais vinho a granel para ser engarrafado por distribuidores internacionais, onde os custos são mais baixos. Mas os pequenos produtores geralmente não têm a infraestrutura e os contatos para usar esta estratégia, dizem os especialistas locais.

Alguns têm investido mais no lado do turismo de negócios. O. Fournier tem um restaurante chique em sua vinha e também vende lotes em suas terras por até 170 mil dólares o hectare, dando aos compradores a oportunidade de produzir o seu próprio vinho ou construir uma casa de verão.

Ortega diz que, assim como outros produtores, a esperança é que no fim do mandato da presidente Cristina Kirchner, no próximo ano, surjam novas políticas econômicas para aliviar a inflação e atrair investimentos estrangeiros.

“Espero que uma política econômica mais coerente beneficie nossa indústria”, diz ele. “Claro, Argentina produz uma grande quantidade de soja, mas as pessoas não vão para um restaurante de sushi e dizem: ‘esta é a soja de alta qualidade Argentina!’. Com exportações de vinho, na verdade você está criando marca do país no exterior”.

Matéria completa em: http://goo.gl/mxchul 

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