Texto: Fabiana Gonçalves
Fotos: Tatiana Cavagnolli
O ano de 2016 não foi tão feliz para a vitivinicultura brasileira. Condições climáticas nada favoráveis no Rio Grande do Sul, principal região produtora do país, como geadas e excesso de chuvas, ocasionaram uma quebra na safra, reduzindo significativamente a produção. Porém, depois da tempestade, a bonança literalmente chegou em 2017. Quase 300 milhões de litros de vinhos e derivados foram produzidos, com uma qualidade que já dá para ser sentida na taça.
E é justamente sobre as características dos vinhos de 2017 que este texto trata. A convite do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Associação Brasileira de Enologia (ABE), estive semana passada na Serra Gaúcha conferindo in loco as novidades que ainda estão nos tanques e barricas, assim como outras recém-engarrafadas. Um verdadeiro passeio pelos mais diferentes terroirs do Rio Grande do Sul, estado de onde sai em torno de 90% da produção nacional de vinhos.
Dentre um tour por vinícolas e encontros com produtores, pude provar algumas boas amostras deste ano, de vinícolas como Casa Venturini, Adega Chesini, Adega Tonini, Cave Boscato, Fabian e Luiz Argenta.
Mas a certeza total de que muita coisa boa vem por aí ficou em um momento especial da viagem: a 25ª Avaliação Nacional de Vinhos, evento que ocorreu no último sábado (23), do qual tive a honra de fazer parte da mesa dos comentaristas responsáveis por descrever os 16 vinhos mais bem avaliados desta safra (fotos abaixo).
Um resumo do que provamos neste painel:
As Bases para Espumantes (vinhos que estão em processo de transformação para virarem espumantes) estão com excelente acidez e mostram boa tipicidade das variedades com os quais foram produzidos. As amostras vencedoras nesta categoria foram:
⦁ Vinho Base Espumante (Chardonnay/Riesling Itálico) – Chandon do Brasil
⦁ Vinho Base Espumante (Chardonnay) – Casa Valduga
⦁ Vinho Base Espumante (Chardonnay) – Domno do Brasil
Na categoria dos brancos finos secos não aromáticos (na qual eu descrevi a amostra do Riesling Itálico), os vinhos pareceram elegantes, também com acidez presente e compatíveis com a proposta de estilo e das uvas com que foram feitos. Os ganhadores foram:
⦁ Riesling Itálico – Cooperativa Vinícola Aurora
⦁ Chardonnay – Almadén
⦁ Chardonnay – Cave de Pedra
Já entre os brancos finos secos aromáticos está um dos vinhos que mais gostei no painel: o Sauvignon Blanc da estreante Fazenda Santa Rita. Os vencedores foram:
⦁ Sauvignon Blanc – Fazenda Santa Rita
⦁ Moscato Giallo – Cooperativa Vinícola São João
Na categoria Tinto Fino Seco Jovem, apenas uma amostra, mas muitíssimo bem representada, com um Cabernet Franc muito agradável e bem feito da Salton:
⦁ Cabernet Franc – Salton
Por fim, os Tintos Finos Secos, feitos com uvas já de tradição na região. Apenas um Malbec, saiu do script, mostrando que o Brasil também tem cacife para fazer vinhos com a uva emblemática da Argentina. Nesse painel, o vinho que mais me chamou atenção foi o Tannat, elaborado pela Don Guerino, embora todos os outros estivessem em um nível linear de qualidade. Confira os escolhidos:
⦁ Petit Syrah – Luiz Argenta
⦁ Merlot – Casa Perini
⦁ Merlot – Miolo
⦁ Cabernet Franc – Giacomin
⦁ Malbec – Almaúnica
⦁ Cabernet Sauvignon – Guatambu Estância do Vinho
⦁ Tannat – Don Guerino
Diante do que pude provar nos quatro dias de viagem, fortaleci algumas convicções e fiquei extremamente satisfeita em ver que além de melhorar seus vinhos e espumantes, os produtores estão envolvidos na criação de um conceito de qualidade, baseado no que cada região pode oferecer de melhor. Mas isso é assunto para o próximo texto. Aguardem!