Os vinhos “sem maquiagem” de Filipa Pato

“Vinhos sem maquiagem”, este é o conceito utilizado pela
enóloga portuguesa Filipa Pato. Sua produção, na região da Bairrada, é livre de
defensivos agrícolas e elaborada à maneira dos antepassados. Filha do renomado
produtor Luiz Pato, aquele que é responsável por “domar” a difícil casta Baga,
ela diz que nunca pensou em ser produtora. Mas a vocação falou mais alto e Filipa
trocou a engenharia química, sua profissão de origem, pelos vinhedos e pela alquimia
dos vinhos.
Quando resolveu entrar nesse mundo,
a enóloga, formada em Bordeaux, ouviu do seu pai a seguinte sentença: “Quer
fazer vinho? Então vá fazer em outra adega”. Foi quando sua avó lhe ofereceu
uma antiga vinícola que pertencia ao seu tio, datada do ano de 1888. Ela
aceitou a oferta e comprou novos equipamentos para a estrutura, que segundo
ela, embora velha, “era muito bem pensada”. Apesar da negativa inicial do pai,
Filipa disse que ele foi um grande incentivador de sua carreira. Talvez aquilo
tenha sido fundamental para que ela adquirisse mais tarde o seu estilo próprio.
Toda esta história foi contada a
mim e a um pequeno grupo de convidados, durante um impecável jantar realizado esta semana
no Recife, no restaurante Ponte Nova, promovido pela distribuidora Veloz, que
acaba de se estabelecer na cidade.
Filipa falou de sua relação com a
uva Baga, principal casta daquela região, afirmando que a variedade não se
adapta a nenhum outro lugar do mundo fora a Bairrada. “Tal como a Pinot Noir, é
uma uva muito caprichosa”, explica. Segundo ela, a Baga gosta dos solos
calcários do local e precisa de clima frio, com boa exposição solar.
Além de não usar agrotóxicos na vinhas, Filipa
procura fazer vinhos sem exagero de álcool e de madeira. “Uso no máximo 20% de madeira
nova nos meus vinhos”.
A produção anual é de 90 mil
garrafas. Destas, cerca de 80% são destinadas ao mercado internacional,
principalmente ao Brasil.
Aos 39 anos, Filipa é casada com o
sommelier belga William Wouters, com quem assina os “Vinhos Doidos” – que não
chegam ainda por aqui. Em 2011 foi eleita a melhor enóloga do ano pela revista
alemã Feinschmeker. É uma pessoa sem frescuras, mas ao mesmo tempo refinada – exatamente
como os seus vinhos. “Sou fiel aquilo que sou. Nem eu nem meus vinhos usamos
maquiagem”, ironiza.
Confira a avaliação dos vinhos
provados na noite:
3B Método Tradicional
Filipa não usa a palavra
“espumante” no rótulo. Ela simplesmente utiliza “método tradicional” para
designar a bebida, que é justamente elaborada com segunda fermentação em
garrafa (método tradicional ou champenoise). As uvas Baga (70%) e Bical (30%) fazem
parte da composição deste exemplar da Bairrada (daí o nome 3B). De cor rosa
claro, apresenta bolhas de tamanho médio, com boa intensidade. Fresco e elegante,
traz notas frutadas de romã e morangos, junto com toques tostados. No paladar é
leve, cremoso e persistente. Tem 11,5% de álcool.
Classificação: Muito
Bom/Excelente.

Média de preço:
R$ 80
FP Bical e Arinto 2013
Branco de cor verde limão feito com
as castas Bical e Arinto, posui aroma envolvente de notas minerais e de frutas
como lichia, abacaxi, lima e pera. O sabor é amanteigado, com bom corpo e
acidez, trazendo também o frutado percebido no nariz. Parte do vinho (20%) fermentou
em barris usados de carvalho francês. Esta linha substitui a antiga “Ensaios”.
A mudança do nome se dá porque Filipa diz ter criado uma base de conhecimento
que a fez entender o melhor do que a região oferece. A graduação alcoólica é de
12,5%.
Classificação: Muito Bom/Excelente.

Média de preço:
R$ 65
Nossa Calcário Branco 2013
A escolha do nome deste rótulo foi
feita através de dois fatores: o primeiro pelo solo calcário da região. O
segundo foi pela observação da própria Filipa sobre a forma como os brasileiros
expressam a sua aprovação quando experimentam um bom vinho, dizendo “nossa!”. E
este é realmente para soltar um sonoro “nossa!”. Elaborado com a casta Bical, fermentou
em barricas de 500 litros com controle de temperatura. De coloração verde
limão, envolve notas cítricas, minerais e de frutas secas. Encorpado, mostra
boa acidez e integração da discreta madeira. O teor alcoólico é de 13%.
Classificação: Excelente.

Média de preço:
R$ 130
FP Baga 2013
Filipa diz que este vinho
reinventa a vinificação da Baga. Foi inspirado nos pequenos produtores da
Bairrada que fazem vinho ao estilo do francês Beaujolais, com pouca extração
dos componentes das cascas da uva. Tem período curto de contato com a madeira: “um
ou dois meses”, observa a enóloga. Sua cor é de um rubi de média intensidade e
os aromas remetem a frutas frescas, como cereja, além de groselha e alguma
mineralidade. Sabor leve, com taninos elegantes e perfeito equilíbrio. Um
daqueles vinhos pra tomar sem cansar.
Classificação: Muito
Bom.

Média de preço:
R$ 65
Nossa Calcário Tinto 2011
Feito exclusivamente com a casta
Baga, o vinho amadureceu 18 meses em pipas de carvalho de 500 litros. Aroma
exuberante, com uma gama diversificada de sensações, tais como floral,
especiarias, fruta vermelha madura, tostado, fumo e café. Paladar estruturado,
com taninos que deixam o vinho “redondo”. O sabor é tão diversificado quanto as
características do olfato. Final prolongado e agradável. Nesta safra, foram
engarrafas apenas 2500 garrafas e 110 magnuns (1,5l). Tem 13% de álcool.
Classificação:
Excelente/Excepcional.
Média de preço: R$ 130*

*Distribuídos pela Veloz. No
Recife, os vinhos podem ser encontrados no Empório Pescadero: (81) 3268-0020.

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