O dia estava ensolarado e prometia muitas surpresas. Saímos do hotel na manhã daquela sexta-feira, 12 de outubro, rumo à centenária bodega Lagarde, em Luján de Cuyo, onde nos esperavam o winemaker Juan Roby Stordeur e o gerente de exportação Santiago Reta Minoprio. Foi lá onde pude provar dois dos mais incríveis vinhos experimentados durante esse winetour: o Henry Gran Guarda 2008 e o Lagarde Semillón 1942.
Ao chegar à vinícola, recebemos algumas informações sobre a sua história e produção e depois nos dirigimos para um belo gramado ao ar livre onde pudemos degustar alguns vinhos e conversar com representantes e produtores das bodegas Hacienda del Plata, Trapiche, Luigi Bosca e Mendel, das quais eu falarei um pouco mais nos próximos posts da série “as boas do vinho argentino”.
Percorrendo a casa patronal e as instalações da adega, soubemos que a Lagardefoi fundada pelo capitão de artilharia Don José Angel Pereira, que se estabeleceu no local após voltar de uma campanha no deserto. Lá, ele levantou sua casa de maneira bem rústica (o que pode ainda ser visto hoje), com muros de pedra e telhado e bambu. Na década de 70, a Lagarde passou para as mãos da família Pescarmona. Hoje quem toca o negócio é Sofia Pescarmona.
A Lagarde possui vinhedos próprios em distintas zonas de Mendoza, a exemplo de Perdriel, Agrelo e Tupungato, inclusive vende uvas para outros produtores. Produz atualmente 1 milhão e 500 mil garrafas de vinho anualmente, sendo 60% delas exportadas. Sua capacidade de vinificação é de 2 milhões e meio de litros.
RARIDADE – Durante o passeio pela bodega, os nossos anfitriões nos mostraram uma verdadeira raridade. Ao tornarem-se donos da vinícola, os Pescarmona encontraram, em 1975, uma pipa de 1.800 litros de capacidade, cheia de vinho feito com a uva Semillón, datado de 1942. A bebida foi engarrafada e hoje é uma bela raridade que pode ser apreciada por poucos, pois cada exemplar custa na faixa de mil pesos. E eu, afortunadamente, tive a sorte de provar este tesouro. Abaixo, conto mais sobre ele para vocês, junto com alguns destaques da degustação.
Lagarde Viognier – 2012
Produtor: Lagarde.
Origem: Luján de Cuyo, Mendoza.
Visual: Amarelo claro com reflexos esverdeados.
Olfato: Maçã verde e outras frutas brancas.
Paladar: Repete o nariz e traz também uma leve mineralidade. Tem boa acidez, untuosidade e final longo.
Outras considerações: Elaborado com a cepa Viognier procedente dos vinhedos de Perdriel.
Classificação: Muito Bom.
Henry Gran Guarda Nº 1 – 2008
Produtor: Lagarde.
Origem: Luján de Cuyo, Mendoza.
Visual: Rubi brilhante.
Olfato: Aromas delicados que envolvem frutas vermelhas, notas tostadas e de baunilha.
Paladar: Complexo, elegante e equilibrado, que remete às mesmas sensações do nariz e ainda um toque de café.
Outras considerações: O vinho é um corte de Syrah (30%), Cabernet Sauvignon (27%), Malbec (25%), Petit Verdot (10%), Cabernet Franc (8%) que teve amadurecimento de 24 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso e envelhecimento de mais 12 meses em garrafa.
Classificação: Excelente/Excepcional
Lagarde Semillón – 1942
Produtor: Lagarde.
Origem: Luján de Cuyo, Mendoza.
Visual: Cor dourada brilhante.
Olfato: Adocicado e exuberante, com notas de amêndoa, nozes, baunilha e maçã.
Paladar: Seco, com sabor que lembra maçã. Tem grande corpo, e estrutura. Final longo.
Outras considerações: O vinho, sobre o qual já contei a história no texto lá em cima, foi elaborado apenas com a variedade semillón. Para mim, lembrou um Jerez seco.
Classificação: Excepcional (sobretudo pelo seu estado de conservação e características que adquiriu em todo este tempo).