A primeira vinícola visitada esta semana através do Projeto Imagem, na Serra Gaúcha, foi a Don Laurindo. Fomos recebidos por Ademir, filho de Laurindo Brandelli, fundador da empresa. A propriedade, localizada no Vale dos Vinhedos, está nas mãos da família, de origem italiana, desde 1887.
Os Brandelli trabalharam o cultivo de uvas de mesa até o início da década de 70, vendendo a produção para vinícolas maiores. Em 1991, eles deram início à produção de vinhos finos e hoje, com 15 hectares de terras própria, produzem cerca de 120 mil garrafas por ano. A Don Laurindo exporta 2% de sua produção para os Estados Unidos, República Tcheca e México. No Brasil, Rio Grande do Sul e São Paulo absorvem 60% dos rótulos elaborados.
Segundo Ademir Brandelli, eles foram a primeira vinícola brasileira a não filtrar os seus vinhos – técnica adotada até hoje. Para o amadurecimento da bebida, a opção é pelo carvalho francês, pois “dá mais fineza e elegância no paladar”, justifica Ademir.
A Don Laurindo também foi a primeira vinícola brasileira a produzir um rótulo com a uva Tannat, em 1991 – vinho que tive o privilégio de tomar e descrevo logo mais abaixo.
E em breve, os negócios da família vão se expandir com o lançamento uma nova vinícola na Serra Gaúcha: a “Alma Única”. Mais um empreendimento para fortalecer o vinho brasileiro, com amor e profissionalismo – duas qualidades que a família mostra ter de sobra.
A seguir, os vinhos degustados durante a visita e as impressões do blog sobre cada um deles:
Produzido pelo método tradicional com as castas Chardonnay e Riesling Itálico, este espumante tem cor amarelo clara com reflexos esverdeados. Mostra boa perlage, com bolhas fininhas e de média persistência, que chegam a fazer cócegas no nariz.
A bebida passou seis meses em contato com as leveduras. O preço é R$ 35.
Os aromas são de frutas secas, com toque floral. Já na boca, ele mostra um caráter amanteigado. A graduação alcoólica é de 12%.
Classificação: Bom
Don Laurindo Malvasia de Candia Reserva – 2009
Como o nome já diz, ele é produzido com a uva branca Malvasia de Candia. Aparece na taça com uma coloração amarelo palha com tons esverdeados e traz ao nariz traços florais e de maçã verde, com leve toque herbáceo.
É um vinho leve e refrescante, com apenas 10,5% de teor alcoólico, e que mantém na boca o sabor de maçã verde com boa persistência. O preço é R$ 25.
Classificação: Bom
Don Laurindo Chardonnay – 2010
Este vinho ainda não está à venda. Por sinal, ainda está até sem rótulo. A intenção é esperar a oficialização da D.O. (Denominação de Origem) Vale dos Vinhedos para já sair ao mercado com o selo.
A cor do vinho é amarelo ouro e os aromas são de abacaxi e florais, revelando um caráter bem tropical. No paladar é fresco, com boa acidez, médio corpo e média persistência. O sabor tostado é predominante, junto com um frutado tropical. O colega Álvaro César Galvão, que integrou o grupo participante da degustação, achou milho verde na prova do vinho. O teor alcoólico é 12%.
Classificação: Bom
Don Laurindo Merlot Reserva – 2009
Este é o Merlot “leve” da casa. A graduação alcoólica é de 11% e o vinho mostra cor rubi, límpida e transparente. Os aromas são de frutas escuras e café. Na boca, mostra taninos de boa qualidade e médio corpo. Deixa seu sabor no paladar por um longo tempo. O seu preço é R$ 25.
Classificação: Muito bom.
Don Laurindo Merlot Reserva – 2007
Este outro é o Merlot “encorpado”. A coloração é vermelho púrpura. No olfato, identifica-se frutas vermelhas e mentol. Já na boca, mostra novamente as frutas com um toque de baunilha e defumado. Tem boa persistência e final frutado. Um vinho excelente para gastronomia. Custa R$ 30. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Classificação: Muito bom.
Don Laurindo Tannat Reserva 10 Anos – 2005
O rótulo comemora os 10 anos de comercialização do Tannat do Brasil.
De cor granada bem escura com tons violeta, a bebida espalha muitas lágrimas na taça, mostrando os seus 14% de teor alcoólico. Tem ótima complexidade aromática, envolvendo frutas vermelhas maduras, defumado e menta. Essas mesmas características vão à boca, que atambém apresenta bom corpo e equilíbrio. Tem potencial para guarda. Custa R$ 80.
Classificação: Excelente
Don Laurindo Estilo – 2008
Na composição deste vinho entram as uvas Malbec, Tannat e Acellotta. Seu nome já diz que é uma bebida com estilo – o que concordo plenamente. No nariz traz frutas vermelhas diversas e mentolado.É um vinho generoso, que oferece no paladar elegantes notas frutadas e toques de defumado. Vai bem com embutidos. O preço é R$ 50 e o teor alcoólico de 12%.
Classificação: Excelente
Don Laurindo Gran Reserva – 2002
É uma assemblage (mistura) das uvas Tannat (80%) e Acellotta (20%) que resultou numa bebida de cor granada e de ótima complexidade aromática, com notas frutadas, de couro e fumo. Envolve o nosso paladar com seus taninos redondos e excelente persistência. Um vinho de classe. Tem 13,7% de álcool. O preço é R$ 105.
Classificação: Excelente/Excepcional
Don Laurindo Gran Reserva – 2005
Assim como a safra 2002, também leva 80% de Tannat e 20% de Acellotta. A cor é rubi com traços violáceos. O aroma é frutado, já aparecendo algum defumado, além de notas de chocolate.
Já pode ser bebido com prazer. Porém, se tiver uma garrafa dessas, guarde por mais alguns anos para tomar.
Classificação: Muito bom/Excelente
Don Laurindo Tannat – 1991
Este foi o primeiro vinho produzido com a uva Tannat no Brasil, do qual só foram produzidas 3.850 garrafas. Durante um jantar no restaurante Sbornea’s, na Serra Gaúcha, Ademir Brandelli nos brindou com a garrafa nº 20 deste vinho – um privilégio sem tamanho.
O que posso dizer é que ele já mostra uma cor evoluída, com levíssimos traços alaranjados, e revela aromas de erva-doce, leve floral e caráter animal. É um vinho muito envolvente na boca, que parece estar em seu ápice. Por incrível que pareça, combinou incrivelmente com um risoto de polvo servido na casa.
Classificação: Excelente.