Sabores de Baco: degustação de sul-africanos

Mais uma vez, tive o prazer de participar do projeto Sabores de Baco, da Folha de Pernambuco. A prova deste mês foi de vinhos sul-africanos e aconteceu no restaurante Taipoca, do chef Duca Lapenda, no Pina.

Confira aqui a matéria publicada neste sábado (31/07/10) e o resultado da degustação:

Que vinho é esse?

No apagar das luzes de julho, eis que apresentamos o resultado do 3º Sabores de Baco. Que, não fugindo à regra da maioria das ações marketeiras mundo afora, faz uma homenagem, meio a contragosto, é verdade, por conta da eliminação da Seleção Canarinho, ao país que sediou a Copa do Mundo 2010. Nossos confrades, pois, reuniram-se em torno de vinhos sul-africanos, tintos, sete rótulos ao todo, e suas impressões você confere nas próximas páginas. Um brinde!

A nossa escolha pelos vinhos da África do Sul para a avaliação às cegas na 3ª edição do nosso Sabores de Baco teve motivação óbvia: a Copa do Mundo 2010 que acabou de rolar naquele imenso, e belo, país de gente alegre, apesar do recente passado político marcado pelo cruel apartheid. Nossa modesta homenagem àquele lugar exuberante foi estimulada também pela notória expressividade do setor vinícola sul-africano – que tem arrancado do público, e da crítica especializada principalmente, comentários positivos a respeito da crescente qualidade dos seus rótulos. Hoje conhecida por produzir vinhos de personalidade.

O que muitos não sabem é que o vinho é feito na África do Sul há décadas, muitas aliás, mesmo que de forma pouco competitiva. Apenas na década de 60, o país deu o “pulo do gato”, como se diz, com o reposicionamento do setor que passou a investir em tecnologia e a acompanhar as técnicas vitivinícolas adotadas pelas principais regiões produtoras do mundo. O negócio de vinho por lá é tão antigo que desde 1973 existe uma denominação de origem própria – a Wine of Origin Scheme – que certifica vinhos feitos em determinadas regiões.

Para o mundo, os rótulos sul-africanos ficaram mais visíveis a partir do fim do regime de apartheid, em 1991, quando enfim houve abertura comercial e os produtores locais puderam se articular com os seus pares em outros países, mais experientes ou no mesmo patamar de desenvolvimento, intercambiando informações e, claro, know how. Foi aí que as cepas brancas, a maioria até então, começaram a dividir território com as tintas mais nobres. Ao passo que também adotou o lema “menos é mais”, reduzindo o volume de produção e, dessa forma, obtendo vinhos de melhor qualidade. E é a esse esforçado trabalho de vitivinicultura a que dedicamos a edição de hoje.

Avaliadores

A degustação dos sul-africanos ocorreu no último dia 13, no restaurante Tapioca, em Boa Viagem, e dessa vez contou com a participação de apenas quatro membros da nossa comissão avaliadora: Murilo Guimarães – médico e colunista da Folha de Pernambuco; Fabiana Gonçalves – sommeliére e blogueira (foto); Jorge Pinho – médico e fundador da Sbav-PE e José Roberto Dantas – sommelier profissional. O resultado desse encontro regado a bons goles e comentários a respeito dessa próspera região produtora você confere nas próximas páginas, que ainda trazem notícias do mercado enológico local.

Sabores de Baco 3ª prova: vinhos TINTOS sul-africanos

Por: Murilo Guimarães

Claro que a Copa do Mundo de Futebol estava por trás da escolha do tema desta nova prova-degustação. Só que a gente sonhava em publicá-la com a taça na mão. Em agosto de 2006, após nosso fracasso na Copa da Alemanha, escrevi sobre a esperança do hexa em 2010. “E felizmente foi-se Parreira. Ave Dunga! Boa sorte”, dizia eu naquele artigo. Mas não deu não. De novo. Bem, a despeito disso, nosso grupo de degustadores teve muito prazer em provar os vinhos da África do Sul, que nos enviaram o Club du Vin, a Grand Cru e a Lacomex.

Das três provas, esta teve a disputa mais apertada, a mais nivelada. Por cima, é bom que se diga. Isso não surpreendeu, visto que a África do Sul, apesar de considerada nova no mundo vinícola, tem grande tradição. E muita respeitabilidade no mercado internacional. Além de exercer preços bem razoáveis.

A decisão de restringir a degustação aos tintos foi tomada em face do histórico das duas provas anteriores: vinhos brancos (Chardonnay e Sauvignon Blanc) e espumantes sul-americanos. Estava na hora dos tintos. Só isso. Nunca por desmerecimento dos brancos daquele país, que são muito bons e até mais clássicos que os tintos.

A África do Sul produz vinhos em várias regiões, mas a qualidade é encontrada no sudoeste, particularmente no entorno da cidade do Cabo. Que já foi da tormenta e hoje é dos bons vinhos. Na cabeceira, dois grandes distritos: Stellenbosch e Paarl. As castas tintas mais usadas são a Cabernet Sauvignon e a Pinotage. Esta última, fruto do cruzamento da Pinot Noir com a Hermitage (na França, mais conhecida como Cinsaut). Mas outras uvas ganham terreno por ali, sobretudo Merlot, Pinot Noir e Shiraz.

Desta vez o restaurante que sediou o evento foi o ótimo Tapioca, onde fomos recebidos com fidalguia por Duca Lapenda e sua equipe. Depois da degustação formal dos vinhos – como sempre inteiramente às cegas – fomos premiados com outra degustação: pratos do cardápio da casa, onde destaco o saboroso arroz de cabidela. Tudo sem reparo. Quer dizer… Desta feita o grupo de degustadores foi reduzido a quatro enófilos, devido a outros compromissos que afastaram três colegas. Mas se o número foi menor, o mesmo não pode se dizer da qualidade de quem lá estava (veja o corpo de jurados, desconsiderando este que vos escreve). Egoísmos à parte, até sobrou mais vinho para nós quatro! Brincadeira.

Bem, amigos, vamos ao resultado

Na tabela abaixo você encontra os distritos produtores, os nomes dos vinhos e as safras. Depois a faixa de preço, a média de pontos (máximo de 100) e a classificação dos vinhos. Adiante a classificação das lojas fornecedoras, com a pontuação dividida pelo número de garrafas enviadas. Item outra vez liderado pelo Club du Vin.

O vinho vencedor foi o Danie de Wet Pinotage Bio 2009, da vinícola Wetshof, 12 décimos acima do segundo lugar, o Simonsig Cabernet Sauvignon. Em terceiro, também poucos décimos abaixo, o Wolftrap, produzido pela vinícola Boekenhoutskloof (conseguiu pronunciar?). Este último, ao contrário dos dois primeiros – varietais das duas mais importantes castas tintas da África do Sul – é um corte de uvas oriundas do Rhône (França): Shiraz, Mourvèdre, Viognier e Cinsaut. Essa é uma nova faceta dos produtores daquele país.

Como já disse, até o sexto lugar a diferença de pontos foi bem pequena, expressando uma boa qualidade média dos vinhos testados.

Mas essas degustações sempre trazem surpresas. O vinho menos pontuado, um corte com predomínio da uva Merlot, é produzido sob orientação de um dos mais cultuados enólogos do mundo, o bordalês Michel Rolland. No mundo do vinho costumamos dizer que “vinho é medido garrafa a garrafa”. Terá havido algum problema específico com aquela que testamos? Qualquer dia desses vou tirar essa dúvida.

Nenhuma casta de uva predominou absoluta. O mesmo podendo se dizer dos distritos produtores.

Por fim, uma análise que sempre fazemos: a relação qualidade-preço. Como quase todos os vinhos estavam na faixa de R$ 41a R$ 80 e a pontuação foi próxima, não houve grandes diferenças. Porém, nesse item venceu também o Danie de Wet, seguido pelo Glen Carlou Cabernet Sauvignon e pelo Simonsig Pinotage.

Façam seus testes, leitores e vejam se concordam com nossos degustadores. Se possível, lá mesmo, no país das vuvuzelas. Sem elas, claro. Pois daí vai dar para ouvir seu tim, tim. Brinde à vida!

CLIQUE NA TABELA PARA AMPLIÁ-LA:

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