O Sabores de Baco, projeto do jornal Folha de Pernambuco, trouxe no último sábado (26) para as páginas do caderno “Sabores” uma avaliação de espumantes sul-americanos. Tive o prazer de integrar o time de avaliadores a convite da editora Vanessa Lins e do colunista de vinhos Murilo Guimarães.
Confira os detalhes da prova a seguir:
Sabores de Baco
Com vocês, o espumante sul-americano
Cá estamos de novo. E com um prazer imenso em dar continuidade ao projeto Sabores de Baco, escrevendo, neste sábado, um capítulo bem especial sobre espumantes. Especificamente, os brasileiros e os da vizinhança sul-americana. Nossos seis confrades se reuniram no dia 24 de maio passado, no restaurante Jalan Jalan, para beber, analisar e compartilhar informações a respeito dos nove rótulos em questão. A prova, feita Pás cegas, foi difícil, surpreendeu.
A escolha desse tipo de bebida como tema do encontro se deu naturalmente, considerando que o mercado consumidor de espumantes, no Brasil, vem crescendo de forma acelerada, em Pernambuco especialmente. Parece que o calor escaldante, o sol de rachar e uma bela costa formam a equação perfeita para o pernambucano sorver uma bela taça efervescente de… espumante! O interesse por aqui tem sido tamanho que tem até produtor do Sul do Brasil mirando no gosto local e destinando grandes remessas para Pernambuco.
Sucesso crescente, então, por que não testar a performance de alguns rótulos? Você, caro leitor, pode questionar a opção pelos espumantes jovens do Novo Mundo. Por que não falamos dos nobilíssimos champagnes, dos potentosos cavas espanhóis ou os românticos proseccos italianos? Novamente, a justificativa nos remete a um mapeamento de mercado. Ainda recente no universo enológico, o brasileiro está naquele momento de optar por vinhos de bom custo-benefício. E ninguém entende melhor desse riscado como chilenos e argentinos, responsáveis pelas maiores produções da América do Sul, ao passo que o Brasil tem desenvolvido cada ano mais o seu potencial para uma bebida fresca e frutada no Sul e no Nordeste do país. Optamos, portanto, em valorizar produtos locais e de países próximos. Coube aos avaliadores convidados a tarefa de traçar um panorama qualitativo das amostras disponíveis. O resultado você confere nas próximas páginas, que, ainda traz dicas de utensílios para espumante. Um brinde aquecido por muitas borbulhas.
Os avaliadores:
Murilo Guimarães
Coordenador das degustações Sabores de Baco, experiente enófilo, assina quinzenalmente a coluna Bacoe Cia, no caderno Sabores.
Fabiana Gonçalves
Novata na turma da degustação da Folha. É a única jornalista pernambucana a falar apenas de vinhos. Assina o blog Escrivinhos (www.escrivinhos.com), é formada sommelier pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP). Também assina colunas enológicas nas revistas Mon Quartier e Plural.
José Roberto Dantas
Formado sommelier pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP), está no nível 3 da Wine and Spirit Education Trust, escola preparatória para a maior titulação mundial em enologia – o Master of Wine.
Hermilo Borba Neto
Fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (Sbav-PE) e atual diretor de degustação da entidade.
Jorge Pinho
Também fundador da Sbav-PE e ex-presidente da entidade, é tido como referência quando o assunto é vinho.
Fred Guimarães
Ministra palestras sobre enologia e é ex-presidente da Sbav-PE.
Baco e Cia
Por: Murilo Guimarães
Sabores de Baco: 2ª Prova – Aos leitores que já conhecem este projeto, sugiro que pulem esta introdução, que se destina aqueles “marinheiros de primeira viagem”. Sabores de Baco foi a denominação que demos a esta confraria. Juntamos os nomes do caderno e da minha coluna e o resultado agradou. Afinal, o objetivo da confraria é avaliar os sabores dos vinhos, tão bem representados pela figura bonachona do rei Baco.
O que temos feito já existe em outros lugares do mundo e mesmo no sul e sudeste do Brasil, mas nosso clima é diferente e talvez os sabores dos vinhos também assim nos pareçam. E acima de tudo, o que o mercado local oferece aos consumidores pode diferir de outros estados.
Esse foi o primeiro critério destas provas. Fazemos contato com várias lojas e representantes recifenses, explanamos o projeto e pedimos que forneçam garrafas de vinho de seus estoques. A seleção, portanto, é deles. Quatro lojas e ou representantes atenderam ao convite (vejam tabela). Aos seus proprietários, em nome dos que fazem e dos leitores deste caderno, mais uma vez agradeço e aplaudo a disposição de participar.
Item da maior importância é a escolha do corpo de jurados. Fomos à procura de conhecedores e amantes do vinho, não ligados ao comércio vinífero, por motivos óbvios. Montamos uma belíssima equipe. O que pode ser atestado nas páginas que me antecedem.
Elaboramos uma ficha gustativa, na qual notas são atribuídas à cor, ao aspecto, a itens do aroma e do paladar de cada vinho, com nota final máxima=100 pontos. A degustação é feita inteiramente às cegas; os jurados sequer sabem que vinhos serão provados, portanto não há influência de um pré-julgamento.
A 2ª prova-degustação
Escolhemos o tema espumante. E o delimitamos à América do Sul. Por várias razões. Maior disponibilidade no mercado, custo em média mais baixo que os europeus e a boa fama que esses produtos vem angariando pelo mundo afora. Sobretudo os brasileiros.
Aliás, em um primeiro momento, pensamos em limitar esta prova aos espumantes nacionais. Depois achamos que seria interessante ampliar a disputa, até para testarmos a qualidade do que produzimos em comparação aos vizinhos chilenos e argentinos. Por outro lado, honestamente, seria covardia incluir os champanhes nesta contenda. Portanto, espumantes sul-americanos foi a proposta final.
Este evento se deu no fim de maio, no restaurante Jalan Jalan, que abriu suas portas exclusivamente para esta prova. Ótima escolha do local. Nós, jurados, ficamos bem à vontade para avaliar as nove garrafas enviadas. Taças corretas, temperatura adequada dos espumantes e um serviço de nível, que se encarregou de definir a sequência aleatória das garrafas. Sequência só revelada aos jurados após todo julgamento. Vamos ao resultado.
Resultado da prova
A tabela mostra país, nome dos vinhos, safra e preços, divididos por faixas: até R$ 40, de R$ 41 a R$ 80 e de R$ 81 a R$ 120. A concorrência fica mais democrática. A seguir vem a média de pontos de cada vinho (soma dos jurados, dividido, no caso, por seis) e a classificação geral. Na próxima coluna essa classificação é ajustada para as faixas de preço. Depois o nome da loja ou representante que forneceu os vinhos, com suas devidas pontuações e classificações. Abaixo, a relação de qualidade-preço (Q-P) de cada espumante e a média de pontos para os brancos (6) e os rosés (3).
O vinho campeão (medalha de Ouro) foi o Reserva da Serra, da Lídio Carraro, seguido de perto pelo Chandon Brut Excellence Reserve (medalha de Prata), ambos espumantes brancos, e pelo Pizzato Brut Rosé (medalha de Bronze). Observe o restante da sequência na tabela, que não sofre grande mudança quando ajustada às faixas de preço. O que me reporta à relação qualidade-preço, também vencida pelo Reserva da Serra. Logo após, o Federico de Alvear e mais abaixo, o Chandon Brut Rosé. Mas eu destacaria também o Pizzato Brut Rosé – pouco mais caro que os anteriores – e o Salton Evidence. Este espumante merece uma ressalva. A garrafa degustada estava, infelizmente, “sofrida”. A cor atestava isso e não havia borbulhas, prejudicando seu julgamento. Apesar disso, ficou para todos os jurados a impressão de estarmos diante de um vinho de qualidade. Bem, garrafas defeituosas são acidentes de percurso que ocorrem. Pena! Outra garrafa que pode não ter feito jus ao espumante foi a Tarapacá Champenoise Brut. A única safrada (elaborada com vinhos de uma única safra, em lugar da usual mistura), era de 2004, prazo de guarda muito longo para um espumante.
O Club du Vin forneceu o espumante medalha de Ouro, mas a Lacomex teve a melhor média de pontos.
Os brasileiros ficaram com os três primeiros lugares. O vizinho melhor qualificado foi o argentino Federico de Alvear, no quarto lugar. Três a um para Dunga, contra Maradona! Os rosés tiveram uma média de pontos levemente superior, impactados pela baixa pontuação de dois brancos. Mas os dois primeiros lugares foram brancos.
Dois pontos foram destacados pelos jurados. O critério de cor ideal se baseia no champanhe, de tom mais dourado. Os espumantes avaliados eram mais claros, tal qual os Proseccos. Será que devíamos ter critérios de avaliação distintos para espumantes (não champanhe)? O outro ponto é a doçura e o necessário balanceio com a acidez. Todas as garrafas testadas eram brut, onde o teor residual de açúcar deve ser baixo. Não foi o caso de muitas delas. Duas, por sinal, exatamente as menos pontuadas, foram consideradas incorretamente classificadas como brut. Poderiam ser demi-sec.
Seria isso uma adaptação ao gosto brasileiro, considerando que as mulheres por aqui, mais chegadas aos doces, são as grandes consumidoras de espumante? Qual sua opinião? Não tem? Pois está aí o resultado para lhe guiar. Teste e me diga. E faça tim, tim. Brinde à vida!
As melhores bolhas
Nove espumantes de sotaque sul-americano. Seis experientes avaliadores. A análise das borbulhas experimentadas você pode conferir na página anterior na coluna de Murilo Guimarães, e os que tiveram melhor performance, na opinião da comissão julgadora, cinco ao todo, levam nossas medalhas de classificação. Foram eles:
Reserva da Serra Brut
Produtor: Lídio Carraro – Serra Gaúcha (Brasil)
Corte: Chardonnay e Pinot Noir
Chandon Brut Excellence Reserve
Produtor: Moët & Chandon – Garibaldi (Brasil)
Corte: Chardonnay e Pinot Noir
Pizzato Brut Rosé
Produtor: Pizzato – Serra Gaúcha (Brasil)
Corte: Merlot e Egiodola