Esta é a minha coluna do mês de junho da revista Mon Quartier. Confiram:
A primeira vez que abri um vinho e me deparei com uma rolha sintética fiquei meio decepcionada. Logo me veio à cabeça que aquele vinho não poderia ser de boa qualidade.
Isso já faz bastante tempo e, se não me engano, a garrafa era de um Valpolicella, tipo de vinho italiano.
Com o passar do tempo, ficou mais comum encontrar esse tipo de rolha nos vinhos. E elas não estão mais presentes só naqueles rótulos de linhas básicas. Em alguns vinhos um pouco mais caros já podemos ver esse tipo de vedação. E não para por aí. A maior parte dos já respeitados vinhos da Austrália e Nova Zelândia é vedada com tampas metálicas de rosca, também conhecidas como “screw cap”. Alguns produtores de países tradicionais, como Portugal, já adotaram essas versões modernas para tampar seus vinhos.
Com tudo isso, você pode estar se perguntando: e as rolhas tradicionais, vão acabar? Para mim, a resposta é não. Mas antes de explicar, vamos conhecer um pouquinho mais sobre elas.
A cortiça, material da maioria das rolhas, é extraída da casca de uma árvore chamada Sobreiro. Após esse processo, a planta passa cerca de dez anos para se reconstituir completamente. O cultivo do sobreiro está cada vez mais restrito e hoje é dominado por Portugal. Por esses e outros motivos, a rolha de cortiça se tornou uma das matérias-primas mais caras na produção do vinho. A unidade pode chegar a custar até dois Euros.
Além do seu charme, a rolha de cortiça proporciona ao vinho a microoxigenação, que é a troca de ar na medida ideal com o ambiente externo. Se o vinho receber uma quantidade maior de oxigênio, isso pode arruiná-lo.
Por outro lado, os fabricantes de rolhas sintéticas e tampas de rosca vêm desenvolvendo testes para provarem que elas funcionam muito bem, preservando as características da bebida.
Especialistas dizem que um vinho tinto aguenta até cinco anos com tampa de rosca. Já ficou provado também que as rolhas sintéticas conservam muito bem os vinhos por curtos a médios períodos de tempo. Pesquisas vêm sendo feitas sobre a evolução de vinhos de guarda vedados com o material sintético, mas só poderemos ter o resultado daqui a alguns anos.
Os fabricantes de rolhas sintéticas e tampas de rosca ainda têm outro trunfo: seus produtos protegem o vinho da contaminação do vinho pelo tricloranisole (TCA), fungo que se prolifera na cortiça e transmite odores e sabor desagradáveis ao vinho (embora a contaminação também possa ocorrer na cantina).
O crítico Robert Parker diz que em 2015, poucas garrafas usarão rolhas de cortiça. Mas e a microoxigenação, tão importante para o vinho e somente promovida por esse tipo de rolha? E o glamour da abertura da garrafa, impedido pelas tampas de rosca?
Sou a favor dos dois novos métodos para preservar os brancos e os tintos mais jovens, do dia-a-dia. Porém, acho que pelo menos os grandes vinhos e aqueles que se propõem a ser de melhor qualidade devem procurar manter a tradição e preservar a boa e velha cortiça. E os grandes produtores com certeza pensam assim.
Em todo caso, guardarei algumas garrafas para que eu possa garantir que no futuro os meus netos saibam qual é a sensação de abrir uma garrafa com saca-rolhas e ter o prazer de sentir o inigualável aroma que só as rolhas tradicionais proporcionam.
Um brinde!
Adorei a matéria! Alguns dias atrás li um artigo que comprova que as rolhas sintéticas e as de rosca prejudicam muito mais o Planeta que as rolhas tradicionais de Cortiça.
Pra me apreciar um bom vinho começa no prazer de abrir um vinho e poder encontrar na rolha aquele primeiro aroma.
Parabéns pelo site.
ongdarolha.webnode.com.pt/
Muito bom.
ongdarolha.webnode.com.pt/
Mandou bem, Fabiana.
Minha conhecimento da bebida se resume ao que desce bem ou não. Você traz, antecipadamente o mesmo que sentimos quando tiraram a linha que abria o band-aid e outra coisas mais.
Parabéns. Tin tin.
Eduardo