Trancada há três dias em casa com uma baita conjuntivite viral, sem poder exagerar na frente do computador, mas ao mesmo tendo que trabalhar na minha atividade principal, o jornalismo on-line*, fiquei refletindo esse tempo sobre a importância da visão. No mundo do vinho, esse aspecto também é fundamental. Vamos então saber algumas dicas bm simples para avaliar visualmente um vinho.
De acordo com Mário Telles Júnior, membro e professor da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP), “50% dos dados que se obtêm sobre o vinho vem do visual”. Esta é a fase mais importante, onde se deve observar a limpidez (presença de partículas em suspensão) e a transparência (penetrabilidade da luz) na bebida. Segundo ele, atualmente é quase uma qualidade para um tinto ter partículas em suspensão, o que antigamente era reprovável. Nos brancos, eventualmente podem ser encontrados cristais de bitartarato, elementos desencadeados pelo frio. Esses cristais têm gosto ácido e pioram a degustação. “É um dos poucos motivos para se decantar um vinho branco”, diz ele.
Já a opacidade em um vinho pode ser um defeito. Para os tintos, incline a taça à distância contra um fundo branco, uma toalha ou um papel, por exemplo, e observe a borda da bebida para enxergar sua cor real. Uma borda esfumaçada (halo aquoso) demonstra que o vinho está no ponto de ser tomado.
Nos espumantes, o aspecto visual é importantíssimo. A qualidade das bolhas de gás carbônico é medida da seguinte forma: quanto mais borbulhas, menor for o seu tamanho, e quanto maior for a sua quantidade e durabilidade, mais crédito para o espumante. Existe um truque que faz prolongar a presença das bolhas, que é riscar fundo do copo com uma caneta com ponta de diamante. Isso intensifica a efervescência da bebida. Na França, a Veuve Clicquot dá uma caneta dessas para os sommeliers profissionais (chique, não?). Mas usar desse artifício é golpe baixo.
Voltando para os vinhos tranquilos (os que não tem gás carbônico), outro aspecto a ser observado são as lágrimas. Quanto maior o teor alcoólico, mais lágrimas se formam na parede da taça. Já quanto maior o teor de açúcar do vinho, mais lentamente as lágrimas vão descer. Por isso, é comum nos vinhos do Porto, que têm alto nível de álcool e açúcar, as lágrimas serem grossas e em quantidade abundante.
Aí você me pergunta: e a cor dos vinhos? Essa é a última etapa a ser analisada. Com a idade, os tintos passam de roxo brilhante para castanho e depois marrom. Mais ou menos nesta ordem:
TINTOS: púrpura – rubi – granada – tijolo – âmbar
Quem dá essa coloração são dois componentes: o antociano, que é instável e tem tons azulados, e o tanino, que é vermelho. Os dois juntos, em quantidades equilibradas, resultam numa cor violácea (as uvas Malbec e Merlot têm pouco tanino, mas os vinhos tem coloração escura). Uma dica: quando as lágrimas na taça são coradas, a cor do vinho é quase sempre violeta. Outra dica: reflexos acastanhados são sinais de envelhecimento.
Quanto aos brancos, a ordem é a seguinte:
BRANCOS: Papel – verdeal – amarelho palha – amarelo ouro – âmbar
A acidez e o açúcar dão longevidade ao vinho branco. A cor dourada pode indicar que o branco foi envelhecido em carvalho, ou que é um vinho doce ou de uvas maduras. Dica: o único Chardonnay esverdeado é o Chablis.
A maioria dos vinhos rosés é feita de uvas tintas. Sua cor vai desde o rosa pálido até o vermelho-escuro. Essa variação se deve ao tipo da uva usada e ao processo de fermentação. Então, é comum encontrar rosés de cor alaranjada pálida a uma bela coloração cereja, até um púrpura vivído.
Então vamos ficar de olho!
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