As tampas de rosca e o futuro do vinho

A maior parte dos vinhos brancos da Austrália e Nova Zelândia, inclusive os de produtores mais respeitados, é vedada com tampas metálicas de rosca. Também conhecidas como stelvin ou screwcap, são as mesmas usadas em embalagens como a do azeite. Muito já se colocou em dúvida a eficiência dessas tampas, mas hoje é provado que são a melhor alternativa de substituição à rolha de cortiça para fechar os vinhos brancos.

Já se tem notícia de testes com vinhos tintos jovens nos quais as screwcap se saíram muito bem, preservando as características da bebida. “Um vinho tinto aguenta até cinco anos com tampa de rosca”, diz Arthur Azevedo, da Associação Brasileira de Sommeliers. Sabe-se que algumas empresas vêm fazendo pesquisas sobre a evolução de vinhos de guarda vedados com a tampa, mas só poderemos ter o resultado daqui a um bom tempo. Alguns degustadores já relataram sentir aromas de borracha em tintos vedados com screwcap, porém o problema foi rapidamente solucionado pelos fabricantes, que desenvolveram juntas especiais implantadas entre a boca da garrafa e o fundo da tampa.

Para os fabricantes, a screwcap protege o vinho da contaminação do vinho pelo tricloranisole (TCA) ou “bouchonée”, fungo que se prolifera na cortiça e transmite odores e sabor desagradáveis ao vinho (embora a contaminação também possa ocorrer na cantina). Outro apelo está relacionado à exploração do sobreiro, árvore da qual é retirada a casca para a fabricação das rolhas de cortiça. Após esse processo, a planta passa cerca de dez anos para se reconstituir completamente. O cultivo do sobreiro está cada vez mais restrito e hoje é dominado por Portugal. Mais um argumento dos defensores da screwcap é que a rolha de cortiça é uma das matérias-primas mais caras na produção do vinho, chegando a custar até dois Euros.

O crítico Robert Parker diz que em 2015, poucas garrafas usarão rolhas de cortiça. Mas e a microoxigenação, tão importante para o vinho e somente promovida por esse tipo de rolha? E o glamour na abertura da garrafa?

Sou a favor da tampa de rosca para preservar os brancos e os tintos mais jovens, do dia-a-dia. Porém, acho que pelo menos os grandes vinhos e aqueles que se propõem a ser de melhor qualidade devem procurar manter a tradição e preservar a boa e velha cortiça. Em todo caso, guardarei algumas garrafas para que os meus netos possam saber como é abrir uma garrafa com saca-rolhas e ter o prazer de sentir o inigualável aroma que só essas rolhas nos proporcionam.

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0 Replies to “As tampas de rosca e o futuro do vinho”

  1. Prefiro ainda as rolhas Sinteticas.

    Adoro abrir o vinho com o saca-rolhas e detestaria a ideia de so abrir vinhos girando uma rosca.

  2. Cara Fabiana,

    O tema é extremamente atual. A Associação Portuguesa de Cortiça está preocupada. Veja algumas conclusões recentes da entidade:

    • A tendência futura pode evidenciar alguma perda percentual num mercado de maior dimensão;

    • O consumo de vinho tem registado uma tendência globalmente positiva, mas em mercados e segmentos onde a penetração de vedantes alternativos é maior;

    • Comparativamente aos vedantes alternativos, a rolha de cortiça perdeu cerca de 30% do mercado em pouco mais de dez anos;

    • A inovação e melhor performance da cortiça têm merecido um reconhecimento parcial, mas ainda sem impacto na evolução da actividade.

    Veja o texto completo em infowine.com/default.asp?scheda=7707

    Um abraço,

    Guilherme
    umpaposobrevinhos.com

  3. A semana passada abrimos um branco com screwcap que havia vazado. uma pena, o vinho estava chato, oleoso…
    bjo

  4. Bem… como formado em biologia e mestre em botânica preciso defender as pobres plantihas, mas como degustador de vinhos confesso que a abertura de uma rolha de cortiça é sem igual. Abri alguns poucos rótulos com rolhas de borraçha… Não sei descrever mas “faltava algo”. Quanto ao problema da microoxigenação citado, acredito que a necessidade impulsiona o progresso tecnológico. Tenho certeza que existe hoje algo análogo às rolhas de cortiça, porém a viabilidade economica de se produzir isso em escala industrial para fins enológicos seria quase nula, pois iria agregar um valor impagável a um vinho. Nada como alguns anos, alguns milhões de dólares e alguns pesquisares dedicados para resolver esse problema, é só aguardar e brindar.

  5. Que coisa mais sem graça estas tampas de rosca. Existem questões que vão além da tecnologia. Abrir um bom vinho com seu saca-rolha preferido é muito legal. Espero que muitos mantenham esta tradição.

    Paulo

    nossovinho.com/

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