A saga das garrafas azuis

Durante os anos 90, época em que o governo Collor abriu as importações para o Brasil, o país viveu um fenômeno que, segundo muitos especialistas, mudou radicalmente o mercado nacional de vinhos. É difícil alguém que já consumia algum tipo de bebida alcoólica naquela época, ou pelo menos que convivia com alguém que bebia, não ter tido contato com o vinho da garrafa azul. O Liebfraumilch, vinho branco de qualidade duvidosa fabricado na Alemanha, causou uma revolução de proporções inimagináveis no país.

Foi a partir da entrada desses vinhos no mercado que muitas pessoas tiveram contato com a bebida pela primeira vez. Era um vinho barato e que tinha um certo charme, pois se destacava nas prateleiras por se diferenciar do restante das garrafas. É interessante lembrar que a idéia de engarrafar o Liebfraumilch em recipientes azuis foi uma jogada do importador de bebidas Otávio Piva, proprietário da Expand, que convenceu o fabricante do vinho a produzir garrafas naquela cor para enviar ao Brasil.

No auge da moda, era comum ouvir as pessoas pedirem “o da garrafa azul”, pois além de tudo a bebida da vez tinha um nome difícil de se pronunciar. De julho de 1997 a julho de 1998 o Liebfraumilch fabricado por Josef Friederich era o vinho importado mais vendido no Brasil. Nesse período, segundo os importadores, foram comercializadas 850 mil garrafas do produto, que eram vendidas ao custo de R$ 2,50 a R$ 8,00.

Tenho um amigo que costumava dizer naquela época que “quanto mais consoantes o vinho tivesse no seu nome melhor ele era”. Estava criado um fenômeno que veio acompanhado de dois mitos. Muita gente tinha experimentado vinho pela primeira vez e se interessou a conhecer mais. Está aí o fenômeno: o aumento estrondoso no consumo da bebida.

Com o aumento da procura de outros tipos e marcas de vinho no país, o brasileiro chegou à conclusão que o velho “Lieb não-sei-o-quê-lá” não era lá essas coisas. E o pior: também concluiu que os vinhos brancos e os vinhos alemães não prestavam – o que não é verdade, pois os vinhos produzidos na Alemanha com a uva Riesling, conhecida como a rainha das uvas brancas, são venerados por muitos e considerados os melhores vinhos brancos produzidos no mundo. Eis os mitos.

Admito que tomei algumas vezes (mesmo sem apreciar) o velho Liebfraumilch, pois ele estava em todas as festinhas, principalmente as de família. Hoje, passado o modismo, vejo os mesmos familiares e amigos que compravam a garrafa azul pagando um pouco mais para satisfazer melhor o paladar. Outros já não fazem tanta cara feia quando se fala em vinhos brancos. As coisas andam rápido no Novo Mundo. E com os vinhos não poderia ser diferente. Um dia a gente chega lá.

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10 Replies to “A saga das garrafas azuis”

  1. Tenho fé que o Brasil ainda vai aumentar as estatísticas de consumo de vinho, principalmente um aumento qualitativo. Estamos caminhando para isso, em passos não tão rápidos, mas chagaremos lá.

    Abraço!

  2. Nossa Fabiana!

    Foi uma volta ao passado ver essa garrafa azul. Tomei vááárias dessas e vomitei muuuuito tb!
    rsssss….

    E ainda temos atualmente o sucessor dele que é o Black Tower. Meu irmão que gosta de “vinho suave” adora, mas um dia eu convenço ele a largar essas drogas pesadas. 🙂

    abs!
    Alexandre

  3. Também entorno a torcida para que o nosso país se torne um dos maiores consumidores dessa preciosidade extraída da uva; e hoje apesar de adepta e defensora dos tintos, confesso que como muitos iniciei minha “carreira” de amante dos vinhos pelo conhecido, adocicado e branco da garrafinha azul.
    Abraços e um brinde !

  4. Assino embaixo que foi uma deliciosa volta ao passado lembrar do Lieb sei-lá-o-que.. rs

    Vinhos brancos não são minha primeira opção, mas também me rendi na época ao modismo da garrafinha azul.

    Querida, estou passando por aqui também para te fazer um convite para participar de uma promoção. As regras e os “prêmios” o/ estão lá no Blog a La Carte.

    Um ótimo fim de semana!

  5. Concordo que o Liebfraumilch seja muito ruim, mas existe um Black Tower varietal Pinot Grigio, um pouco mais caro e difícil de encontrar, que não é ruim como seu primo. Quem encontrar, tente experimentar.

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    I would appreciate if a staff member here at escrivinhos.com could post it.

    Thanks,
    Oliver

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  8. Nossa, revirando algumas garrafas em casa.. coisas do avó que herdei.. achei um Liebfraumilch – Josef Friederich de 1989, a garrafa é azul porém o formato é um pouco diferente do que apareceu ai. Se quiser eu mando uma foto. E otimo post. Valeu.. Fabinho

  9. Tenho uma dessa guardada até hoje fiz questão, é de 1992 – Liebfraumilch – Golden Palace e o rótulo também é diferente da foto postada.
    Abs.,
    Wesley

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