Foto: buchada (Cácio Murilo)
Na sexta-feira passada, num animado papo com Aline Feitosa, repórter de gastronomia do Diario de Pernambuco, surgiu um assunto que, para quem mora no Nordeste e gosta de vinhos, já deve ter se questionado. Dá para harmonizar a bebida com pratos locais cheios de “sustança” como a buchada ou o chambaril?
Entre uma taça e outra, Aline relembrou que, em agosto do ano passado, ela tirou a prova junto com a sommelier paulistana Janaína Torres, uma das mais conceituadas profissionais do ramo no país. As duas encararam uma harmonização de vinhos e espumantes em pleno Restaurante da Mira, uma das referências em pratos regionais no Recife.
Confira a seguir, o trecho da matéria Aline com o resultado do desafio:
“Buchada com espumante brut Mumm
A buchada, para quem não sabe, é um preparo típico sertanejo. As vísceras do bode são temperadas e cozinhadas e depois colocadas no bucho no animal, costurado e recozinhado. Janaína jamais havia degustado uma buchada. “É diferente. Traz ao paladar uma explosão de temperos na boca, um sabor forte”. Antes de chegar ao espumante, Janaína tentou um tinto, da uva Merlot.
“Mas os sabores da buchada são complexos demais”, diz ela, que atestou que o espumante brut, geladinho, limpa o paladar da gordura, do gosto do sangue. “Ficou muito interessante. O espumante incentiva a gente a comer mais”.
Cabrito frito e galinha à cabidela com tinto Crianza Rioja Marques de Arienzo
Para Janaína Torres, a galinha à cabidela com o merlot é a harmonização campeã, “a que mais deu liga”, define. Ela optou por um tinto médio corpo, que não sobressai ao prato. “O sabores da comida e do vinho, neste caso, devem ficar similares. A cabidela é parecida com a galinha ao molho pardo, ou até com o coq au vin (receita francesa de frango ao vinho), e merece um vinho com personalidade, que não seja frutado”, coloca ela. O cabrito frito também ganhou perfeita companhia do Marques de Arienzo. “Já que o preparo traz muita gordura, foi melhor harmonizar com um tinto de caráter mais europeu, com um pouco mais de acidez”.
Chambaril com Casillero del Diablo Merlot
Ao colocar a primeira garfada na boca, a percepção: uma receita com toque adocicado. O chambaril da Mira é acompanhado de legumes, entre eles jerimum e repolho, que trazem o sabor doce, levado também ao pirão. “À primeira vista, tentaria um cabernet sauvignon, mas o chambaril apesar de ser forte e gorduroso, acaba ficando mais leve com a adição dos legumes”, diz Janaína, que afirma que o merlot harmoniza o prato como um todo. “Outra coisa importante é que o vinho é digestivo. Para quem não quer engordar, a opção pelo vinho é melhor. Assim, come-se com qualidade e se agrega o prazer à saúde. Para as mulheres é uma boa dica para combater a celulite”, sugere.
Compota de doce com espumante demi sec Mumm
Enfim, a sobremesa. Seria impossível deixar fora da experiência a mistura de doces de frutas, especialidade da cozinha da Mira. O espumante demi sec, feito com a variedade de uvas pinot noir e chardonnay, trouxe ao final da refeição um paladar memorável. Mas uma prova de que, com vinhos, é possível beber sem parar de comer. Servir um vinho doce, branco ou tinto combinando com um tipo da sobremesa, é comum na gastronomia européia: os vinhos brancos doces são para as sobremesas mais delicadas, os tintos, como o porto, acompanham melhor as sobremesas mais consistentes. E não esqueça: tome sempre água, do começo ao fim desta irresistível brincadeira”.
Olá,
todos os pratos típicos nordestinos são maravilhosos. Quando podemos uni-los aos sabores dos bons vinhos e espumantes ficam melhoeres ainda. Parabéns Fabiana e Aline.